sexta-feira, 29 de junho de 2007

Complexo do Alemão

Não quero entrar no mérito da ação da polícia lá no RJ, nem tenho conhecimento para tanto, mas acho que a sociedade e, principalmente a imprensa, precisa decidir o que quer. Ou aceita que a polícia combata duramente os traficantes ou não admite o confronto. As duas coisas ao mesmo tempo não me parece possível. Tampouco entrar na favela pedindo licença. Esta dualidade esquizofrênica transparece nos jornais e noticiários de TV e não vejo lógica nisso. Não se faz omelete sem quebrar os ovos. Isso só imobiliza a ação policial e dá argumento para aqueles setores obscuros que adoram acordos com estas quadrilhas: você não passa dos limites e eu finjo que está tudo bem.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Saúde, cerveja e aborto

Já disse em posts anteriores que o ministro da Saúde tem toda a razão quando toca na questão do aborto. Em entrevista à Folha, José Gomes Temporão foi mais longe e não só defendeu a legalização e a adoção da pílula do dia seguinte como também mexeu em outro assunto tabu em nossa sociedade: o consumo de bebidas alcoólicas. Claro que a mídia nem quer chegar perto deste tema. Teme perder as gordas fatias de publicidade que as cervejarias torram anualmente. Mas o fato é que o consumo aumenta ano a ano como diz o ministro:"De 2005 para 2006 o consumo de cerveja no Brasil cresceu 7,5%, e os brasileiros beberam a mais dois litros por capita por ano. " Ou seja: há cada vez mais mais pessoas que se arriscam a ser dependentes da bebida. Sim, porque bebida alcoólica vicia assim como o cigarro e as drogas ditas "pesadas". Portanto, abram o olho: cerveja e destilados em geral também causam dependência.
Abaixo alguns dos trechos da entrevista:

ABORTO CLANDESTINOO número de abortamentos clandestinos no Brasil foi de 1,040 milhão em 2005. Para cada três crianças que nascem foi realizado um aborto induzido. Como estamos atendendo no sistema de saúde 220 mil curetagens pós-aborto, se há crime, teríamos que prender todos os dias 780 mulheres, mais os médicos e enfermeiros.É uma discussão [aborto] que vai para o campo da religião, da filosofia, da moral, fica uma coisa abstrata. Mas não trabalho com abstrações, trabalho com as 170 mulheres que morreram em 2005 -quarta causa de óbito materno.

CONTRACEPÇÃO
O ministério usará sim a pílula do dia seguinte, ela é uma arma importante no sentido da prevenção da gravidez indesejada. O que houve na política que lançamos é que, como estamos ampliando o acesso ao anticoncepcional na rede de farmácias, e esse programa pressupõe receita médica, e a utilização da pílula do dia seguinte pressupõe a não necessidade de apresentar uma receita médica -seria um disparate você ter que procurar um médico para prescrever-, minha equipe está vendo como encaixar a pílula do dia seguinte em nossa estratégia, em que estará, com certeza absoluta.

INÍCIO DA VIDA
Ninguém defende o aborto por si só. Nosso problema são mulheres que engravidaram e se defrontam com uma situação difícil, na maioria das vezes dramática, e como é que o Estado apóia esse processo. Apóio [aborto induzido] até o início do desenvolvimento do sistema nervoso central, em torno da 12ª semana de gravidez. Porque até ali não há consciência, não há sofrimento, não há dor. Há um conjunto de especialistas, médicos e até filósofos, que apóiam essa perspectiva. A única coisa que não aceito nessa discussão é alguém negar que essa é uma questão de saúde pública. Aí tem a visão da igreja, da família, do cidadão, mas negar que essa é uma questão de saúde pública, que mata mulheres, que traz sofrimento e dor, é uma irresponsabilidade.

ÁLCOOL
De 2005 para 2006 o consumo de cerveja no Brasil cresceu 7,5%, e os brasileiros beberam a mais dois litros por capita por ano. A indústria jura que não é por causa da propaganda, é o aumento da renda. Com a propaganda de cigarro havia a mesma discussão, de liberdade de expressão. Acho que a gente poderia até ser mais ousado, é uma polêmica saudável. Outra polêmica saudável é que os artistas deveriam refletir mais sobre seu papel na sociedade. Como você coloca sua imagem, seu talento, e a serviço do quê. Tem uma música nova que diz que a solução é latinha na mão. Não dá.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Uma amostra do futuro

O jornal inglês Independent trouxe uma reportagem (também publicada na Folha) muito interessante sobre um conflito na África causado pelas mudanças climáticas. É um alerta dramático da ONU de como este este caso pontual pode ser o preview de uma situação que viveremos com muita intensidade no futuro se nada for feito para conter o aquecimento global.

O jornalista Steve Bloomfield destaca no texto que "As alterações climáticas se tornaram uma importante questão de segurança que poderia levar a uma "conflagração mundial", segundo o mais importante funcionário ambientalista da ONU. Do aumento no nível do mar no oceano Índico à desertificação acelerada do Sahel africano, o aquecimento global causará novas guerras em todo o mundo, disse Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente. "As pessoas estão sendo forçadas a ocupar territórios alheios devido às alterações climáticas, e isso causa conflito", disse. "

O jornalista prossegue na reportagem informando que "as mudanças drásticas do ambiente na região sudanesa de Darfur ajudaram a preparar o terreno para o conflito atual, que deixou mais de 2,5 milhões de desabrigados e ao menos 200 mil mortos. Um relatório que o Pnuma divulga hoje estabelece vínculo direto entre as alterações climáticas e o conflito em Darfur. As raízes da guerra iniciada há quatro anos estão na devastadora seca que varreu o Sudão e o Chifre da África nos anos 80, diz o texto. Desde então, o nível pluviométrico do Sudão caiu 40%, segundo os cientistas, devido ao aquecimento global. "

Ainda segundo a reportagem "Os pastores nômades e os agricultores, que no passado dividiam o território de forma relativamente pacífica, subitamente passaram a dispor de menos terras férteis. Os fazendeiros começaram a cercar terras pelas quais no passado permitiam a passagem dos nômades. Os confrontos pelos recursos cada vez mais escassos entre os nômades, que tendem a ser de etnia árabe, e os fazendeiros, em sua maioria africanos, generalizaram-se. A crise atual foi deflagrada por uma rebelião lançada por três tribos de Darfur e pela feroz campanha de combate aos insurgentes promovida pelo governo, aliado às milícias árabes, mas as mudanças drásticas no ecossistema parecem ter contribuído para a disputa. "O que vemos em Darfur é um fenômeno de mudança ambiental em curso, e isso pressiona as comunidades locais", disse Steiner. "Se somarmos esse fator a potenciais tensões de natureza étnica ou religiosa, logo teremos uma mistura na qual qualquer pressão maior pode resultar em conflito."

Mas não é só na África que hoje observamos estas condições para conflitos provocados pelas mudanças climáticas. O jornalista do Independent relata que "A alta do nível do mar ao largo da costa de Bangladesh representa outra potencial fonte de conflito, afirmou Steiner. "A Índia já começou a construir uma muralha para impedir que os bengalis atravessem. A alta de meio metro prevista para o nível do mar significará que 34 milhões de pessoas terão de deixar as áreas que ocupam". Mas é a África que tem mais chance de sofrer. O continente cujos moradores têm o menor número de carros e fazem o menor número de vôos internacionais experimentará as mais devastadoras conseqüências das alterações climáticas. A elevação do nível do mar pode destruir até 30% das costas, e de 25% e 40% dos habitats naturais africanos serão perdidos até 2085, segundo a ONU. "

Os alertas como esses vão chegando com cada vez mais intensidade à mídia e as soluções que a humanidade está encontrando para resolver esta questão do aquecimento global estão sendo adotadas (quando são) em passo de tartaruga. Deste jeito as gerações futuras (nossos filhos e netos) vão olhar para o passado e para a nossa geração e perguntar: o que estes idiotas ficaram fazendo que não tomaram nehuma providência?

segunda-feira, 25 de junho de 2007

São João, Jesus e festas pagãs

O despretensioso post anterior trouxe, para minha surpresa, uma série de e-mails solicitando mais explicações sobre a festa de São João e sua origem como festa pagã. Bom, para explicar um pouco mais vou precisar usar algumas informações colhidas em dois interessantes sítios. Um é o blog Madras e o outro o site Jangada Brasil. Nos links vocês têm acesso à íntegra dos textos. Abaixo fiz um resumo com as informações principais.

No Madras, com inclinação para a Maçonaria e uma análise mais ampla, o que inclui até o mito do nascimento de Jesus, o artigo de Wagner Veneziani Costa e Celso Ferrarini explica que " Na mesma data em que se comemora o solstício de verão, 24 de junho, no Hemisfério Norte, dia de São João Batista, estamos comemorando aqui, o solstício de inverno. Recordemos as festas juninas (São João). No dia 25 de dezembro, comemoramos o solstício de verão e, no Hemisfério Norte, o solstício de inverno. É a data do nascimento de Avatares como: Krishna, Mitra, Hórus, Buda e Jesus Cristo, todos considerados grandes Sóis (Deuses)...

...Os primeiros cristãos do Império Romano, para escapar às perseguições, criaram o hábito de festejar o nascimento de Jesus durante as festas dedicadas ao deus Baco, quando os romanos, ocupados com os folguedos e orgias, os deixavam em paz.Mas a origem mitraica é a que é mais plausível para explicar essa data totalmente fictícia: os adeptos do mitraismo costumavam se reunir na noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa e mais fria do ano, numa festividade chamada – no mitraismo romano – de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol triunfante). Durante toda a fria noite, ficavam fazendo oferendas e preces propiciatórias, pela volta da luz e do calor do Sol, assimilado ao deus Mitra. O cristianismo, ao fixar essa data para o nascimento de Jesus, identificou-o com a luz do mundo, a luz que surge depois das prolongadas trevas...

... entre os romanos a (religião) predominante fosse a da adoração à Mitra, que era representado por uma figura humana. No lugar da cabeça, um Sol. Havia muitos outros deuses, notadamente, Jano, com suas cabeças que, sabidamente, simbolizavam os solstícios. Esses solstícios estavam sempre presentes nas festas pagãs, porque eram vinculadas à Natureza. É aí que encontramos uma provável explicação histórica para os festejos juninos e natalinos, que a nova religião romano-cristã, não podendo desenraizar dos costumes populares, o mínimo que conseguiu foi a substituição.

...O solstício deve ser comemorado com “ágapes solsticiais”. Isso não significa se reunir para comer ou beber, mas sim para compartilhar, agradecer e unir energias a serviço do “Mais Elevado” e da ajuda à humanidade. E por esse motivo, compartilhar uma comida simples.
O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado – como fonte de calor e de luz – o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical."

No site a Jangada Brasil a explicação segue quase pelo mesmo caminho, mas acrescenta algumas informações. " Tal festa não é brasileira e muito menos católica. Ela é tudo o que há de mais profundamente humano e de mais visceralmente pagão. Velha conto o mundo, se tem transformado ao sabor de cada meio e ao gosto de cada povo. E a religião católica, com a sua extraordinária habilidade, não a esqueceu, quando organizou, no correr dos séculos, as suas festas, adaptando-a ao seu espírito e dando-lhe como patrono um santo cujo dia fica justamente na época do ano em que o paganismo morto a celebrava. Todos os santos do cristianismo são mais ou menos, filhos dos antigos deuses....

...As cerimônias dessa festa... constavam de danças em redor da fogueira, de festins, da colheita de certas ervas mágicas que se deviam guardar sobre si para obter felicidade, da conservação, durante o ano, com o mesmo fim, dos carvões da fogueira. São, mais ou menos, as mesmas cerimônias que Ovídio descreve nos Fastos, no livro quinto, renovadas a cada aniversário da fundação de Roma.

...A festa de São João é a festa de Agni, do fogo, a festa que comemora o solstício do verão. E Santo Elói, no século VII, quando ainda a igreja a não adotara, trovejava contra ela: "Não vos reunais, - dizia ele, numa encíclica aos seus diocesanos, na época dos solstícios. Nenhum de vós deve dançar, ou pular em torno do fogo, nenhum de vós deve cantar no dia de São João. Por que essas canções são diabólicas!"Em Roma, segundo Ovídio, que nela participou, a festa do solstício se chamava Palilia. Era a festa do deus, ou da deusa Palés: "sive deus, sive dea". Então, narra o autor dos Fastos, se acendiam fogueiras, em cuja cinza se cozinhavam favas, ornavam-se as casas e estábulos de ramos verdes, recitavam-se três vezes certas orações, atravessava-se pelo meio das chamas, sorrindo e cantando, porque o fogo tudo purificava, homens e rebanhos.

Essa sobrevivência do velho culto ariano de Agni, o benéfico e o protetor, passou de Roma para as nações bárbaras que se formaram sobre as ruínas colossais do Império, conquistadas pouco a pouco pela cultura latina. ..A reminiscência da roda de chamas é o uso atual de jogar fogo de rodinhas de papelão orladas de estopim, em cujo centro há pinturas curiosas e, às vezes, a face do Batista. Essas rodinhas, presas por um prego à ponta de uma vara, queimam, rodopiando, e recordam a antiga grande roda inflamada das superstições medievais, como a passagem purificadora pelo fogo, que Ovídio aconselha, é a mesma que nós realizamos nas nossas fogueiras de São João, com intuitos de ser felizes durante o ano, ou para obter o compadresco singelo. Obedecemos nisso à força insuperável da tradição milenária, indestrutível, que celebra no dia de São João o solstício do verão, como no dia de Natal o solstício de inverno. A igreja adaptou essas celebrações à sua maneira ..."

domingo, 24 de junho de 2007

São João e a festa pagã

Os colegas do blog Saindo da Matrix lembram bem que a festa de São João, celebrada hoje, nada mais era do que outra festa pagã subtraída pela implacável igreja católica. Nesta data, os antigos comemoravam no hemisfério norte o solsistício de verão (o dia mais longo do ano) e homenageavam o deus Sol. E como era a celebração? Com uma grande fogueira...

Lutar pelo clima

O ex-vice-presidente americano Al Gore continua afiado em sua luta contra o aquecimento global. Ele propõe que se economize o dinheiro que está sendo gasto na intervenção militar no Iraque para combater o efeito estufa. Alerta que o derretimento do gelo na Groenlândia teria um impacto muito maior sobre Manhatan do que o 11 de setembro. Ironiza a pretensão de colonizar outros planetas enquanto mal conseguimos salvar New Orleans de um furacão. Ele lembra ainda que os países mais pobres, principalmente na África e na região amazônica, serão os mais prejudicados se nada for feito para conter a escalada de calor em nosso planeta. Veja abaixo a íntegra da nota divulgada pela agência EFE:

Al Gore diz que luta pelo clima é tão importante quanto antiterrorismo


BARCELONA - O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore declarou neste sábado em Barcelona que a luta contra a mudança climática é tão importante quanto combater o terrorismo e propôs que o dinheiro gasto na Guerra do Iraque seja empregado na defesa do meio ambiente.

"O terrorismo não é a única ameaça. Caso uma parte da Groenlândia se derreta, os efeitos sobre Manhattan seriam muito piores do que o atentado de 11 de setembro de 2001", afirmou o ex-vice-presidente democrata, enquanto mostrava um gráfico de como as águas invadiriam Nova York.

Para Gore, "lutar contra a mudança política não é só uma questão política, é uma questão moral". Segundo ele, o ser humano está diante de uma verdadeira grande guerra.

"Nossa civilização contra a Terra", acrescentou.

"Não é uma questão política. É uma questão ética. É moral. Se permitirmos isto, o dano ao planeta será tão grande que destruiremos cegamente nossa civilização e o futuro de nossos filhos. Temos de mudar", afirmou o autor do documentário "Uma Verdade Inconveniente".

"Estamos queimando combustíveis fósseis a um ritmo que fará com que, em menos de 45 anos, os níveis de CO2 dobrem, o que, segundo a comunidade científica do mundo, seria uma catástrofe", disse.

Al Gore participou do I Encontro Internacional de Amigos das Árvores, que terminou hoje em Barcelona e que promove a iniciativa de plantar 100 milhões de árvores na Espanha para frear a desertificação.

"Plantar árvores não é a única solução, mas é parte da saída para a crise climática", disse o político americano ao apoiar a iniciativa espanhola.

Gore destacou a atual situação de diferentes geleiras, além de casos como as neves do Kilimanjaro e as coberturas árticas, que estão desaparecendo por causa do aquecimento global.

A crise ambiental leva "ao desaparecimento de enormes massas de gelo do Himalaia, o que poderia ameaçar rios como o Ganges ou o Amarelo. A cordilheira é fonte de recursos para 40% da população do mundo", afirmou o ex-candidato democrata à Casa Branca.

Na opinião de Gore, "não se pode falar de ciclo, como fazem alguns céticos, já que temos nesta época os níveis mais altos de CO2 dos últimos mil anos".

Em sua extensa palestra, defendeu uma ação conjunta para conter a mudança climática.

"Os dez anos mais quentes estiveram entre os últimos 14 e no mesmo tempo se aqueceram também as águas dos oceanos. Tudo isto, segundo alguns cientistas, provoca fenômenos extremos como ciclones, furacões ou tornados, que aumentaram sua potência em 50% por causa do aquecimento global", segundo o ex-vice-presidente.

"Depois do Katrina em Nova Orleans, quase 150 mil cidadãos não puderam voltar a suas casas, e me envergonho de como esta crise foi administrada. Muitos pensam que com o Katrina começou o período das conseqüências do aquecimento global", afirmou.

"Não podemos falar de colonizar outros planetas quando somos incapazes de esvaziar Nova Orleans", ironizou Gore em sua conferência.

Para o ambientalista, só será possível lutar contra a destruição em escala global se os Estados Unidos assinarem o Protocolo de Kyoto e houver uma ação internacional contra o aquecimento do planeta.

As companhias de seguros perderam juntas US$ 1 bilhão pelos desastres naturais e, após afirmar isto, Gore destacou as regiões que correm mais perigo, entre elas a África e a Amazônia.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Como eu ia dizendo...

Para quem leu os posts sobre deformação da opinião pública (ver aqui) e acha que sou muito radical, recomendo a leitura do texto do jornalista Mino Carta publicado em seu blog. Vocês vão entender muito bem o motivo da minha irritação com a imprensa neste país.

Sobre a parcialidade

Um estudo do IUPERJ sobre o comportamento da mídia durante a campanha das eleições de 2006 acusa a clamorosa parcialidade das coberturas de Globo, Estadão e Folha de S.Paulo. Vai sair na próxima edição de CartaCapital, apontada pelo estudo como o único órgão que informou corretamente. É a história de sempre, o enésimo capítulo de um enredo sem fim que vê a mídia alinhar-se de um lado só quando os donos do poder enxergam a aproximação de algum risco para o seu bom-bom. E reparem que desde a posse de Lula reeleito tudo continua como dantes. A mídia busca precipitar uma crise a todo custo. Pretendeu-se transformar Vavá em excelente corruptor sem a mais pálida prova, e sem levar em conta a personalidade do irmão do presidente, figura bastante modesta, digamos assim. Diferente é o caso de Renan Calheiros. O filho fora do casamento não é, obviamente, o ponto. O problema está no fato de que se acumulam as evidências dos envolvimentos de Calheiros em esquemas suspeitos, com a guarnição de atrapalhadas tragicômicas cometidas pelo próprio.

Pergunto aos meus solertes botões: se os acontecimentos de hoje tivessem ocorrido no tempo em que Calheiros era ministro de Fernando Henrique, seriam explorados com a mesma sofreguidão midiática? Respondem de pronto: nunca, jamais, talvez nem viessem à tona. E já que citei FHC, recomendo a leitura da Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim, inquirido na rua por um admirador de sotaque pernambucano, a lhe perguntar com expressão sabiamente sonsa: por que falam tanto do filho do Renan e nada se falou, em outra época, do filho do Fernando Henrique? Diga-se que a Globo conhecia o entrecho cabuloso de cor e salteado, a mãe solteira era funcionária da casa e, como tal, foi enviada para o exterior e ali mantida no resguardo. Aliás, outras moças globais deram-se bem com políticos."

Em post posterior, Mino lembra que a revista Caros Amigos mencionou o filho de FHC com a jornalista retirada em Barcelona.

Outros posts sobre o assunto:
Lamarca, Vavá e a deformação da opinião pública
Por falar em deformação de opinião...
Deformação da opinião pública

terça-feira, 19 de junho de 2007

Máscaras e a simplicidade

Voltemos ao filósofo Sêneca, um dos hits deste blog (veja os posts mais lidos). Agora, dentro da obra Tranqüilidade da Alma vamos abordar um capítulo bem curtinho chamado Praticar a Simplicidade. Para o autor este é um dos grandes males que inquietam a alma das pessoas. O desafio diário de ter uma máscara ou encarnar um personagem perante as outras pessoas torna a vida mais complicada e longe da frugalidade. A questão do filósofo: precisamos mesmo esconder quem realmente somos? Abaixo o pensamento de Sêneca:

" Um outro gênero de inquietude nasce do cuidado que o homem emprega em fingir e em jamais se deixar ver como é. É o caso de muitas pessoas, cuja vida só é hipocrisia e comédia. Que tormento, esta permanente vigilância sobre si mesmo, este terror de ser surpreendido num papel diferente do que aquele que se escolheu! E esta preocupação não nos deixa mais, desde o instante em que nos persuadimos de que somos julgados a cada olhar que nos lançam. Com efeito, aparecem mil incidentes, que nos revelam contra nossa vontade; e quando logramos nos observar sem desfalecimento, que satisfação! Mas que segurança pode oferecer uma existência inteira passada sob uma máscara?

Que encanto, ao contrário, na espontânea simplicidade de um caráter, que desconhece os ornamentos artificiais e que despreza disfarçar-se! É verdade que corremos o risco de perder a consideração, abrindo-nos ingenuamente demais a todos: pois não faltam pessoas para menosprezar o que se lhes torna acessível. Mas a virtude não pode ser de modo algum desprezada, quando oferecida a todos os olhares; e não é melhor ser menosprezado por sua franqueza do que importa-se o suplício de uma dissimulação perpétua? Todavia, não excedamos à medida: pois há muita diferença entre a sinceridade e a falta de modéstia"

Curiosamente, a revista Vida Simples de junho trouxe este mesmo assunto como reportagem de capa (ler aqui)

Leia também os posts
Sêneca e a tranqüilidade da alma
Maus efeitos da riqueza
O pensamento socrático
Filosofia para o dia-a-dia
Coisas simples
Epicuro e a busca da felicidade

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domingo, 17 de junho de 2007

Branas e as novas dimensões

O físico Marcelo Gleiser toca, em sua coluna na Folha de hoje, em um assunto que é muito caro a este blog: "as dimensões do espaço e como saber se a nossa percepção da realidade não é enganosa? ". O texto é muito esclarecedor e didático mesmo para quem ainda não conhece as últimas novidades da física, principalmene as que envolvem a Teoria das Cordas e a Teoria M. Os dois temas já foram abordados neste blog (ver abaixo alguns links). O texto de Gleiser é uma boa introdução e acredito que esta história, quando comprovada, ainda vai nos fazer compreender melhor questões metafísicas que por enquanto carecem de uma leitura mais científica. Esperemos viver para ver este momento. Enquanto isso, aproveitem o texto do físico:

"Quantas dimensões espaciais existem? "Fácil", diria o leitor, "são três: comprimento, largura e altura. Ou, se você preferir, norte-sul, leste-oeste e a vertical". Sem dúvida, são essas as dimensões que percebemos no nosso dia-a-dia, as dimensões em que nos locomovemos. Mas será que é só isso? E se existirem dimensões que são invisíveis aos nossos olhos, ou mesmo microscópicas, por serem muito pequenas? Como se certificar de que nossa percepção da realidade não é enganosa? Dou um exemplo. Imagine uma mangueira num jardim. De perto, a mangueira é um cilindro bem longo, tendo duas dimensões: seu comprimento e sua circunferência. Uma formiga pode tanto andar ao longo da mangueira quanto dar voltas ao seu redor. Mas, de longe, a mangueira vai se parecendo cada vez mais com uma linha e menos com um tubo. Perdemos a percepção de que ela tem também uma largura. Bem de longe, a mangueira é indistinguível de um objeto com uma dimensão apenas, seu comprimento. Nem sempre nossa percepção da dimensionalidade do espaço corresponde à realidade. Tudo depende de perspectiva e da precisão dos nossos instrumentos de medida.

Como dizia o filósofo francês do final do século 17 Bernard Le Bovier de Fontenelle, queremos sempre saber mais do que enxergamos. A filosofia (leia-se busca pelo conhecimento) é conseqüência da combinação da nossa curiosidade com nossa miopia. Voltando às dimensões do espaço, talvez sejamos apenas míopes. Em matemática, pensar sobre dimensões extras é relativamente simples. Basta adicioná-las às equações descrevendo às propriedades do espaço. Essa é uma das maravilhas da matemática, nos fornecer meios de especular sobre realidades imaginárias, cuja estrutura depende apenas de consistência lógica, sem qualquer compromisso com a realidade. Mas em física a coisa é diferente.

As ciências físicas têm como missão descrever a realidade natural, além das aparências ou das especulações. Podemos especular sobre quantas dimensões espaciais existem, mas a realidade é uma só. A física busca por uma descrição da realidade cada vez mais completa. A idéia de que existem dimensões extras surgiu em 1919. O físico-matemático alemão Theodor Kaluza sugeriu que duas forças fundamentais da natureza, a gravidade e o eletromagnetismo, são, na verdade, uma só quando vistas em um espaço de quatro dimensões espaciais. Ou seja, ilhados na nossa percepção da realidade, limitada à três dimensões, deixamos de vislumbrar a unidade fundamental que existe na natureza. Essa idéia tem um apelo que vai além do científico. Hoje, físicos continuam a formular teorias de unificação das forças em espaços com mais de três dimensões.

Desde a época de Kaluza, foram descobertas mais duas forças fundamentais, as forças nucleares forte e fraca, que atuam no interior do núcleo atômico. Para acolher essas duas novas forças, segundo as teorias atuais, são necessárias nove dimensões espaciais, seis a mais do que as que percebemos. Onde estão elas? Se existem, são muito pequenas para serem percebidas, mesmo com nossos microscópios mais poderosos. Existe a possibilidade, remota, de que seus efeitos sejam medidos em uma máquina gigantesca prestes a entrar em funcionamento na Suíça, um acelerador de partículas conhecido como LHC, que já mencionamos em outras colunas. Caso não sejam, provavelmente serão décadas até que possamos testar essa idéia. No meio tempo, é bom lembrar de que o que vemos é apenas a pequena parte da realidade. "

Alguns posts e links sobre o assunto:
Branas para leigos
Entrevista com a física Lisa Randall
Marcelo Glesiser e a Teoria das Cordas
Resenha da revista Ciência Hoje sobre o livro Universo Elegante
LHC (o acelerador do CERN) é explicado de forma didática no site do Rede Nacional de Ensino e Pesquisa

Pesquise no Buscapé preços de livros de Marcelo Gleiser, Lisa Randall, da obra Universo Elegante e demais publicações sobre a teoria das cordas

Lamarca, Vavá e a deformação da opinião publica

Não gosto muito de tratar de assuntos políticos neste blog, mas às vezes é inevitável. Principalmente quando há uma clara tendência dos meios de comunicação à deformação da opinião pública. Veja o caso do Lamarca, ex-capitão do exército que partiu para a guerrilha na época da ditadura militar. Na semana que passou houve uma decisão que reconhece o então oficial como coronel. Essa decisão foi tomada porque ele foi assassinado durante sua captura. A imprensa direitista como sempre se levantou contra. Páginas raivosas na Veja e até na Folha de S. paulo, com direito a editorial e tudo.

Em sua coluna de hoje, o ombusman do jornal coloca o assunto no seu devido lugar. Diz ele na nota (que vale para todos os veículos de (des)informação) "Erros em série sobre Lamarca":

"A Folha cometeu uma sucessão de erros na cobertura de quinta e sexta sobre a promoção a coronel concedida a Carlos Lamarca (1937-71) pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.O jornal afirmou que Lamarca, um dos mais destacados militantes da esquerda armada contra a ditadura militar (1964-85), "morreu como capitão" em 1971 na Bahia.Não procede: ao desertar do Exército em 1969 por iniciativa própria, o então capitão deixou de pertencer à Força. Não era oficial ao ser morto, mas ex-militar....Grave erro consta do editorial de sexta: "A morte [de Lamarca] em combate -como acabou ocorrendo há quase 36 anos no interior da Bahia- é risco natural para quem escolhe pegar em armas".Assim, a Folha bancou o relato do regime militar. Em 1996, a União concluiu que o guerrilheiro foi assassinado quando -desnutrido, doente e exausto- já não tinha condições de reagir. Não teria, portanto, havido combate algum, mas homicídio, em vez da prisão possível. É o que a imprensa noticiou há 11 anos...A Folha deve ser rigorosa ao narrar a história, sem subscrever relatos superados ou carentes de comprovação."

Concordo totalmente. No mesmo jornal a coluna do jornalista Elio Gaspari aponta para outro absurdo que é este carnaval em torno do tal Vavá, o lobista que não conseguiu emplacar nadinha e ainda tentou tomar uns 2 mil reais na praça. Tá na cara que não passa de um tolinho (e mais tolinho ainda quem acreditava na história dele). Mas a imprensa não está nem aí para isso e fica batendo bumbo. Só porque Vavá é irmão do presidente. No artigo "Vavá está sendo linchado", o jornalista explica o que está de fato oorrendo:

"O homem do "arruma dois pau pra eu" é o biombo. Querem a jugular de Lula, o dos 60 milhões de votos . GENIVAL INÁCIO da Silva, o Vavá, está sendo covardemente linchado porque é irmão do presidente da República. Ele é acusado de tráfico de influência sem que até hoje tenha aparecido um só nome de servidor público junto ao qual tenha traficado qualquer pleito que envolvesse dinheiro do erário. Um fazendeiro paulista metido numa querela de terras queria reverter uma decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça. Vavá recomendou-lhe um advogado. Isso não é tráfico de coisa alguma. Um empreiteiro queria obras e encontrou-se com ele num restaurante. Ninguém responde se Vavá conseguiu favorecer esse ou qualquer outro empreiteiro.A divulgação cavilosa e homeopática de trechos de gravações telefônicas envolvendo parentes de Nosso Guia tornou-se um processo intimidatório e difamador capaz de fazer corar generais do Serviço Nacional de Informações, o SNI da ditadura. No caso de Vavá, as suspeitas jogadas até agora no ventilador não guardam nexo com os fatos. Não há proporção entre as acusações que lhe fazem e o grau de exposição a que foi deliberadamente submetido...."

"...Antes da conclusão do inquérito policial, Vavá foi irremediavelmente satanizado a partir de indícios, suspeitas e manipulações. Seu linchamento não busca o cidadão metido com vigaristas. Busca a jugular do irmão.Durante a última campanha eleitoral, quando o comissariado petista chafurdou na compra de um dossiê contra os tucanos, demonizou-se a figura de Freud Godoy, um assessor de Lula, conviva de sua panelinha. Durante três dias ele pareceu encarnar toda a corrupção nacional. Freud foi arrolado em dois processos, um criminal e outro eleitoral. Dizer que foi inocentado é pouco. Ele nem sequer foi indiciado.O pessoal do século 21 sabe que Jimmy Carter é um ex-presidente dos Estados Unidos (1977-1981), Prêmio Nobel da Paz de 2002. Passará para a história como um exemplo de retidão. Isso agora. Quando estava na Casa Branca, Carter foi atazanado pela exposição de seu irmão Billy, caipira alcoólatra que se tornou lobista (registrado) do governo líbio. Criou-se o neologismo Billygate. Morreu em 1988, aos 51 anos, falido. Virou poeira da História.Ninguém quer a jugular de Vavá, como não se queria a de Billy Carter. O negócio é outro."

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Mas você não consome?

Esta foi a questão levantada por um internauta no branas@uol.com.br . "É fácil falar para não consumir. Tenho certeza de que vc anda de carro, faz compras no shopping, come carne etc, fulminou meu crítico virtual. Toda a indignação foi causada pelo post A ONU e os bicombustíveis, no qual defendo que não adianta ficar falando de sustentabilidade e medidas paliativas como os biocombustíveis. O que vai salvar o planeta é diminuir o consumo. Daí para quase ser chamado de hipócrita foi um passo.

Mas são questões pertinentes e que valem a pena ser respondidas. Óbvio que sou um ser-humano normal e com todas as deficiências crônicas de uma erva daninha neste planeta. Porém, acho que não estou entre os piores e mostro uma evidente evolução.

Tenho entre os pontos positivos o fato de que nunca fui muito ligado à moda, consumo, carros etc. Tomo trem e metrô sem nenhuma crise. Aliás, até me sinto uma pessoa civilizada fazendo isso. Meus gostos mais perdulários, vocês que acompanham o blog já devem ter percebido, são os livros. Curto também traquitanas tecnológicas, mas, não, ainda não tenho tela de plasma, home theater, ipod e outros brinquedinhos modernosos e símbolos de status.

Por outro lado, as coisas duram comigo. Celular, por exemplo, só troco depois de uns 4 anos de uso intenso. Por mim nem trocava, mas os aparelhinhos não aguentam muito tempo. Foram feitos para se dissolverem depois de uma data limite...Meu vídeo-cassete (sim vídeo-cassete) ainda roda umas fitas vhs.

Mas nada disso realmente me emociona mais do que dar algumas voltas em dias ensolarados de outono. Ou mesmo tomar um banho na cachoeira, ficar reunido com a família e amigos. Cada vez mais dou importância a estas pequenas coisas e menos em comprar, consumir, se mostrar, ter status. Gosto da idéia do budismo sobre o desapego.

Porém, antes que alguém queira me canonizar já vou avisando que a única coisa que me recuso mesmo a fazer, e posso até ser apedrejado em praça pública por causa disso, é parar de comer carne! Não dá. Mas quem sabe neste meu caminho da iluminação eu acabe me convencendo e consigo mudar os meus hábitos? E vc? O que vc faz para diminuir o seu consumo? Envie o seu e-mail ou deixe um comentário e vamos compartilhar experiências. O Branas está aqui para isso.

domingo, 10 de junho de 2007

Epicuro e a busca da felicidade

Continuo devorando o livro As Consolações da Filosofia, de Alain de Botton. Estou no capítulo dedicado ao filósofo Epicuro (341 a.C). Ele viveu boa parte da vida em Atenas e fundou uma comunidade, digamos, alternativa. Era um grupo de amigos que compartilhava uma casa modesta no subúrbio, fazia plantação de subsistência e passava horas discutindo filosofia.

No entanto, Epicuro leva a fama de ser o autor da idéia de que temos que aproveitar as boas coisas da vida. Conceito que evoluiu de maneira equivocada para comer e beber do melhor; morar em casas confortáveis e luxuosas; vestir-se com requinte... Mas não era nada disso que ele pregava!

O filósofo acreditava que só uma vida em torno de amigos, com liberdade e reflexão traria a felicidade. No primeiro caso, nas palavras de Botton, "...O desejo de possuir riqueza talvez não deva ser sempre entendido como ânsia por uma vida luxuosa. Um motivo mais importante talvez fosse o desejo de ser admirado e bem tratado. Podemos almejar a fortuna como o único objetivo de assegurar o respeito e a atenção de pessoas que, em outras circunstâncias, nos desprezariam. Epicuro, ao discernir nossa carência subjacente, reconheceu que um punhado de bons amigos sinceros poderia prover o amor e o respeito que mesmo a riqueza não pode".

Já a liberdade, para Epicuro, é não ter que se submeter a trabalhar com pessoas de quem não se gosta ou conviver com chefes e suas ordens. Por isso, o filósofo e seus amigos optaram por uma vida mais simples, porém que se afastava deste modelo de dependência a terceiros. Fundaram a comunidade alternativa "Jardim" e conseguiram uma vida equilibrada. Para Botton, " a simplicidade não afetava o senso de status quo dos amigos porque, ao se distanciarem dos valores de Atenas, deixaram de julgar a si próprios segundo bases materiais. Não havia necessidade de constrangimento diante de paredes nuas e nenhum benefício em exibir a posse de ouro. Entre um grupo de amigos que vivia afastado do centro político e econômico da cidade não havia - no sentido financeiro - nada a provar"

Finalmente, Epicuro considerava a reflexão como a terceiro pilar para a busca da felicidade. Na reflexão você consegue combater a ansiedade. O filósofo acreditava que "quando anotamos um problema ou verbalizamos em uma conversa, permitimos que seus aspectos essenciais venham à tona. Uma vez identificado seu caráter, eliminamos, se não o problema em si, pelo menos as características secundárias que o agravam: confusão, indecisão, perplexidade".

Portanto, para Epicuro, ter dinheiro não quer dizer, necessariamente, ter felicidade. Sem amigos, liberdade e uma vida baseada na reflexão, "jamais seremos verdadeiramente felizes. E. se temos tudo, com exceção do dinheiro, jamais seremos infelizes... " . Alain de Botton faz uma reflexão genial na seqüência: "Por que, então, somos tão fortemente atraídos por coisas caras, se elas não podem nos trazer alegrias extraordinárias? ...porque objetos caros podem parecer soluções plausíveis para necessidades que não compreendemos. Os objetos imitam, em uma dimensão material, aquilo de que necessitamos no plano psicológico. Precisamos reorganizar nossas mentes, mas somos seduzidos por prateleiras repletas de novidades. Compramos um cardigã de caxemira como um substituto para conselho de amigos".

Claro que não é fácil escapar do consumismo. Epicuro alertava para o perigo das opiniões vãs. Seriamos influenciados pelo meio que nos cerca (amigos, publicidade, cidade etc), o que causa uma enfatização ao luxo e à riqueza. " A prevalência de uma opinião vã não é uma coincidência. Faz parte dos interesses do mundo dos negócios que esta hierarquia natural de nossas necessidades (amizade, liberdade e reflexão) seja desvirtuada, para a promoção de uma visão material do bem e uma desvalorização do que não pode ser comprado. E a maneira de nos seduzir é estabelecer uma associação astuciosa entre os artigos supérfluos e nossas outras necessidades esquecidas (por exemplo, propaganda de um jipe = a liberdade)".

Prossegue Botton, "...A publicidade não seria tão vitoriosa se não fôssemos criaturas tão sugestionáveis. Cobiçamos coisas que nos são apresentadas vistosamente...Lucrécio (filósofo grego) lamentava a maneira pela qual aquilo que desejamos é escolhido mais por influência da opinião alheia do que pelo que nos revelam nossos sentidos. Proliferam imagens atraentes de produtos e locais suntuosos, e pouco se fala de ambientes e pessoas comuns. Recebemos pouco incentivo para tomar em consideração recompensas modestas: brincar com uma criança, conversar com amigos, uma tarde ao sol, uma casa limpa, um pouco de queijo sobre uma fatia de pão fresco. "

Enfim, viva uma vida mais simples. O que nos custa apreciar uma tarde ensolarada de outono? Andar com o cachorro, tirar um tempo para conversar com amigos, tomar sorvete de mãos dadas com a pessoa amada...Com este pensamento vamos em busca de algo mais profundo e menos epidérmico e ainda ajudamos a tornar a vida em nosso planeta mais sustentável. Afinal, com tanta coisa boa e de graça oferecida pela natureza, por que incentivar o consumismo que, no final das contas, está destruindo Gaia?

Leia também os posts
Sêneca e a tranqüilidade da alma
Maus efeitos da riqueza
O pensamento socrático
Filosofia para o dia-a-dia
Coisas simples


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sábado, 9 de junho de 2007

Caridade

Não sei se vcs repararam, mas o exercício da caridade é um ponto em comum entre algumas religiões, como o judaísmo, budismo, espiritismo, umbanda, catolicismo etc. O ato de dar é um dos pilares principais para o bem-estar da pessoa, seja material ou espiritual. Há uma frase que é atribuída a Buda que diz que "se soubéssemos qual o fruto do ato de dar, nós não deixaríamos passar nem sequer uma simples refeição sem dividi-la".

Pensem nisso e comecem a fazer caridade. Atos simples como oferecer refeição para povo na rua (uma pessoa que seja), dar aulas de reforço para crianças carentes, fazer doação de alimentos para orfanato ou asilo, dar kits de lápis de cor e caderno de desenho para crianças na rua etc são exemplos de envolvimento direto na caridade. Mas se vc não tem muito tempo disponível, pode ajudar com uma pequena contribuição em dinheiro alguma associação de caridade que vc conheça (e é bom conhecer mesmo para ver como o trabalho é desenvolvido) .

Pronto. Garanto que você vai se sentir outra pessoa e com energia renovada após um ato de caridade. Além disso, se cada um ajudasse um pouquinho que fosse, as desigualdades sociais no Brasil seriam bem menores. Mãos à obra!

A ONU e os biocombustíveis

Esta história de que os biocombustíveis são a salvação do planeta está mal contada. Poucas vozes conseguem alertar sobre os perigos da alta do preço dos alimentos por causa da invasão das plantações de cana e milho (assunto já abordado em post anterior. Leia aqui). Até Fidel Castro alertou para o perigo. Mas como é o Fidel, a mídia faz de conta que a opinião dele não merece crédito. Agora a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) divulgou um estudo em que conclui que é inevitável um aumento no preço da comida por causa da produção de biocombustível. E isso deve ocorrer já este ano.

Os custos devem subir pelo menos 5% em relação ao ano passado. Isso deve equivaler a um gasto a mais de U$ 400 bilhões. E quem paga a maior parte da conta são justamente os países pobres ou em desenvolvimento que precisam importar cereais. Um trecho revelador na reportagem da Folha: " A cesta de alimentos importados para os países menos desenvolvidos deve custar, em 2007, aproximadamente 90% mais do que em 2000", diz Adam Prakash, economista da FAO. "É um contraste absoluto com o crescimento de 22% dos custos de importação dos países desenvolvidos nesse mesmo período"

E tudo isso porque os cereais, como o milho, estão sendo cada vez mais utilizados nos biocombustíveis. O aumento na procura faz o preço subir no mercado internacional. Segundo a FAO, em dado revelado na Folha, "a produção de cereais deve atingir 2,125 bilhões de toneladas neste ano, com expansão de 6% ante 2006, mas esse aumento será "mal-e-mal suficiente" para atingir a elevação na demanda. E, mais uma vez, o organismo afirma que a indústria do biocombustível -"de rápido crescimento"- será responsável pela maior procura por cereais."

Portanto, como temos repetido nesta trincheira, só uma diminuição no consumo no planeta poderá realmente fazer de nosso mundo um lugar sustentável. Mais do que ler artigos de especialistas em meio ambiente, acho que temos que ler Sêneca e o seu Maus efeitos da riqueza. Precisamos muito da filosofia para nos ajudar a abrir os olhos e perceber como nosso modelo de vida, com um consumismo irrefreável e, muitas vezes, fútil, é inviável. Medidas paliativas, como o biocombustível, só permitem que nossa consciência fique menos pesada. Porém, a realidade é bem menos dourada e os problemas só vão mudar de nome.

Leia outros posts sobre o assunto:
Biocombustíveis x fome
Lixo nuclear em casa
Em Busca de mais energia
Um trecho de A vingança de Gaia
A tal de sustentabilidade
Uma visão holística e ecológica
Salvar o planeta

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sexta-feira, 8 de junho de 2007

Gisele e o aborto

Outro destaque desta semana foi a entrevista da modelo Gisele Bündchen sobre o aborto e o uso da camisinha. Na conversa à Folha ela foi muito corajosa em expor sua opinião, principalmente, em um país onde a maioria da população é ultra-conservadora e, muitas vezes, hipócrita. Mandou muito bem na frase sobre as restrições da igreja católica ao aborto e à camisinha "Como é possível não querer que se use camisinha e que também não se faça aborto? É impossível, desculpa". Abaixo, um trecho da entrevista:

FOLHA - O Brasil está discutindo muito o aborto ultimamente. Qual é a sua posição a respeito?
GISELE - Sou a favor de a mulher fazer o que deseja de seu corpo. Fui a uma exposição em Nova York que mostrava o interior do corpo humano e também as fases da gravidez. Até quatro meses de gravidez, não existe quase nada. É como um grãozinho. Portanto, acho que a mulher deve ter direito de decidir o que é melhor. Se ela acha que não tem dinheiro ou condição emocional para criar uma criança, como pode dar à luz? É claro que a prevenção é a melhor coisa, mas existem situações que escapam ao controle.
FOLHA - A Igreja Católica é a principal opositora do aborto no Brasil, bem como do uso de camisinha...
GISELE - Proibir camisinha é ridículo, basta pensar nas várias doenças que são transmitidas sem ela. Quando a igreja fez suas leis, milhões de anos atrás, a mulher era virgem, o cara era virgem... Hoje em dia, ninguém mais casa virgem. Me mostra uma pessoa que seja virgem! Acho que é obrigatório usar camisinha. Como é possível não querer que se use camisinha e que também não se faça aborto? É impossível, desculpa.

Para quem acabou de chegar ao Branas, a opinião deste blog sobre o aborto é de que a mulher tenha a liberdade de decidir o que fazer. Além disso, a sociedade não pode, hipocritamente, se esconder do fato de que milhões de mulheres fazem o aborto clandestino neste país. Portanto, o aborto é uma questão de saúde pública e deve ser tratado como tal. E isso, claro, tem que ser acompanhado por um amplo programa de planejamento familiar.

Leia outros posts sobre o assunto
Um artigo...
Descriminalizar o aborto

Por falar em deformação de opinião...

Não publiquei, por falta de tempo, um trecho da coluna do jornalista Janio de Freitas de terça-feira, na Folha, sobre como é a renovação de canais de TV e rádio nos EUA e na Europa. Mais de uma centena de emissoras são fechadas e não há nenhuma comoção por causa disso. Mas quem liga para essa informação quando a mídia brasileira quer fazer parecer um atentado contra a liberdade de expressão o fechamento da emissora de TV venezuelana. Abaixo o trecho do artigo:

Sem barulho
O jornalismo brasileiro faz ao mundo uma revelação fenomenal: se ainda sobrevive em aparência, há muito a democracia está extinta em países como Inglaterra, Canadá, México, Peru, Espanha e, mais ainda, EUA, para citar só alguns. Já que, segundo informa e ensina o jornalismo brasileiro, tevês e rádios livres para o que queiram são a medida da democracia e da legalidade, é forçoso concluir que aqueles países preferiram outros regimes. Uma pesquisa do jornalista chileno Ernesto Carmona verificou que em todos tem havido não renovação e cassações de canais. Só nos Estados Unidos ele encontrou 102 não renovações, em 141 extinções de tevês e rádios.Ernesto Carmona é presidente do Colegio de Periodistas de Chile, associação dos jornalistas chilenos.

Deformação da opinião pública

Depois de escrever o post abaixo vi em menos de 24 horas alguns exemplos da desinformação que os meios de comunicação costumam fazer e que só corroboram a tese do raciocínio socrático de que temos que questionar sempre as informações que recebemos.

Caso 1 - Manchete de abertura do Jornal Nacional desta quinta-feira mostrava o caos nos aeroportos com pessoas fazendo manifestação no saguão e invadindo a pista. E nenhuma palavra sobre o motivo dos atrasos. Pelo tom parecia que estávamos novamente no meio de uma crise aérea. Só depois, assistindo à matéria, e lá pelo meio da reportagem, é que ficamos sabendo que o nevoeiro fechou os aeroportos de Guarulhos (SP) e de Buenos Aires, o que provocou atrasos nas saídas dos vôos. Uma situação metereológica a que qualquer aeroporto do mundo está sujeito. Mas quem liga para isso quando o tom é de campanha? É tome imagens de passageiros revoltados, discursos inflamados e a percepção de um governo incompetente que não consegue resolver a questão.

Cena 2 - Jornal O Globo de quinta-feira mostra fotos de pessoas envolvidas em "escândalos" no atual governo rodeando uma imagem do presidente Lula de costas. Mesmo que o presidente não tenha nada com os casos (muitos deles, como o do tal Vavá, não passaram de espuma...) e nem tenha sido envolvido diretamente, a mensagem é clara: Lula está cercado de "corruptos". Logo...E por que as organizações Globo estariam em campanha contra Lula? O jornalista Paulo Henrique Amorim apresenta uma sugestão de resposta em seu blog e mostra a página de O Globo com a (des)informação. Leia aqui.

Cena 3 - Manchete da Folha de São Paulo desta sexta-feira: Lula defende direito de Chávez fechar TV. Na linha fina (a linha que fica abaixo da manchete) : Presidente diz que não houve "violência" e que venezuelano pode se prejudicar ao criticar senado brasileiro. Reparem na aspas em violência. Por que enfatizar esta palavra como sendo do Lula? Para denotar que para ele não é uma violência fechar um meio de comunicação. Mas o fato, que está no texto, é que a violência a que ele se refere é que foi tudo feito dentro das regras democráticas e que é um direito do estado conceder ou não a renovação.

Enfim, como eu vivo dizendo neste blog, cuidado com as informações que recebemos. Usem o método socrático de questionamento. Só assim diminuímos o risco de sermos ludibriados como massa de manobra.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

O pensamento socrático

Vivemos em tempos midiáticos em que a percepção vale mais do que a razão. Há uma constante (de)formação da opinião pública a partir de depoimentos na imprensa de pessoas acima de qualquer suspeita. Personalidades que muitas vezes usam argumentos com a profundidade de um pires, mas que ao ser dita junto com outros, torna-se, na visão do cidadão desavisado, algo sensato e que deve ser seguido.

Por exemplo (prometo que não será o mote principal deste post), para a mídia e nossa elite econômica e política, Hugo Chávez é um ditador. Não importa que ele tenha sido eleito pelo voto direto e que tomou todas as decisões dentro de um ambiente reconhecidamente democrático. Isso não importa. O fato é que ele é um déspota e tudo o que ele representa ou faz tem que ser achincalhado. Isso faz com que a população comece a ter idéias preconcebidas e acabe aceitando a percepção negativa. Uma ou outra voz se levanta contra este raciocínio, mas são gotas no tsunami midiático.

Vocês que acompanham este blog sabem que estou afundado em leituras filosóficas. Pois bem. Comprei o livro de Allain Button, As consolações da Filosofia, que depois serviu de base para o documentário Filosofia para o dia-a-dia, já abordado neste blog. O primeiro capítulo trata do raciocínio socrático e como o pensamento comum de uma sociedade muitas vezes não passa por um exame banal de lógica.

A cada página que ia lendo percebia que muitas das coisas que vemos hoje, como o exemplo citado acima, cabem como uma luva no pensamento de Sócrates e o que ele tanto procurou revelar à sociedade ateniense. Claro que este tipo de questionamento lógico incomoda muita gente e destrói as percepções que parte da elite quer passar para o resto das pessoas. Justamente por causa disso, o filósofo grego foi acusado, julgado e condenado a morte...

Em homenagem a Sócrates, que nos empresta a frase Só sei que nada sei, reproduzo alguns trechos do livro de Botton para que vcs também tirem suas conclusões e reflitam sobre quais idéias, opiniões, conceitos tentam nos empurrar goela abaixo diariamente e como nos proteger desta lavagem cerebral.

"...mas não é apenas a hostilidade alheia que pode nos impedir de questionar o status quo. Nosso desejo de levantar dúvidas pode ser salpicado por uma sensação íntima de que as convenções sociais devem ter bases sólidas, mesmo se não sabemos discernir exatamente que bases seriam estas pelo fato de terem sido adotadas por tantas pessoas há tanto tempo. Parece implausível que a nossa sociedade esteja profundamente equivocada em suas crenças e, ao mesmo tempo, que seríamos os únicos a perceber este fato. Reprimimos nossas dúvidas e nos incorporamos ao rebanho porque não conseguimos nos imaginar pioneiros na tarefa de desvendar as verdades desconhecidas e dolorosas...

...Se evitamos questionar o status quo, é principalmente porque - à parte o clima e o tamanho das nossas cidades - associamos o que é popular com o que é certo. O filósofo descalço (Sócrates) levantava um número incontável de questões para determinar se o que era popular fazia ou não sentido...

...Outras pessoas podem estar erradas, mesmo quando ocupam posições importantes, mesmo quando estão advogando crenças adquiridas durante séculos por uma vasta maioria. E a razão é simples: estas pessoas não submeteram suas crenças ao crivo da lógica...Para ressaltar a peculiaridade de sua passividade (ao senso comum) comparou o ato de viver sem raciocinar de maneira sistemática à pratica de uma atividade como a olaria ou a confecção de sapatos sem que se adotem ou mesmo se conheçam as técnicas necessárias para tal. Ninguém jamais iria imaginar que um vaso ou um sapato bem-feitos poderiam resultar apenas da intuição; por que, então, supor que a tarefa mais complexa de se gerir a própria vida poderia ser executada sem qualquer reflexão contínua e sistemática sobre suas premissas e objetivos?

Talvez porque não acreditamos que o ato de gerir nossas vidas seja na realidade complicado. Determinadas atividades difíceis parecem muito difíceis vistas à distância, enquanto outras igualmente difíceis parecem muito fáceis. Ter concepções corretas sobre como viver recai na segunda categoria, fazer um vaso ou um sapato, na primeira...

...O método de Sócrates de examinar o senso comum é observável tanto nos primeiros diálogos de Platão quanto nos chamados diálogos da maturidade e, porque ele segue passos coerentes, pode sem injustiça ser apresentado na linguagem de um livro de receitas ou de um manual, e aplicado a qualquer conceito que alguém foi solicitado a aceitar ou se sente inclinado a contestar. A correção de uma afirmativa não pode, segundo sugere o método, ser determinado pelo fato de ser ou não aceita por uma maioria ou pelo fato de ser seguida há muito tempo por pessoas importantes. Uma afirmativa correta é aquela que não dá margem a ser racionalmente contestada. Uma afirmativa é verdadeira se não se pode ser invalidada. Se puder, não importa o número ou a posição social das pessoas que nela acreditam, ela deve ser falsa e nós estamos certos em duvidar dela."

Não acabou ainda. Voltarei ao nosso filósofo Sócrates em posts futuros.

Leia também os posts
Sêneca e a tranqüilidade da alma
Maus efeitos da riqueza

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terça-feira, 5 de junho de 2007

Lei da Atração 3

Conforme prometido, cá estou com minha modesta análise do livro A Lei da Atração - o segredo colocado em prática, de Michael J. Losier, e publicado pela Nova Fronteira. Livro no estilo manual, com linguagem direta e abordagem bem acessível. Os conceitos apresentados são os mesmos citados em outros livros e no filme. Por exemplo, para conseguir que a Lei da Atração funcione vc precisa seguir os três passos: peça, acredite e receba. Também menciona o poder da vibração, que já vimos em posts anteriores e até recomendo uma releitura do Tudo Vibra. Até aí, concordo, nada demais.

A graça do livro, no entanto, está em duas sacadas do autor e que minimizam (mas não evitam totalmente) algumas das "pegadinhas" já abordadaas neste espaço (veja links abaixo). Uma delas (e a principal) é que para a lei dar certo vc precisa acreditar muuiiito. Não pode dar margem para dúvidas porque atrai a tal vibração negativa. Vc não pode acreditar só 99,99%. Tem que ser 100% ou nada! Bom, e como conseguir isso? Aí vem a idéia matuta do gringo: dizer na fase do acredite que vc está em processo de obter um desejo. Algo assim como "estou em processo de conseguir um sítio na Serra da Mantiqueira". Para o autor, com esta construção da frase não há possibilidade de dúvida. Precisa só ver se a lei da atração é tão tolinha para cair nessa...

A segunda idéia interessante, na verdade técnicas para reprogramar sua vibração, deve ser aplicada no momento do receba, aliás o ponto crítico em todo o processo da Lei da Atração e campeã em "pegadinhas". Terreno altamente pantanoso. Na verdade o receba nada mais é do que vc mesmo permitir que a Lei da Atração lhe dê o que foi pedido. E vc só permite se estiver vibrando totalmente de maneira positiva. Com 1% de vibração negativa já é suficiente para impedir a concretização do desejo. Loucura, não?

Não é por acaso que o autor gasta boa parte do livro para apresentar algumas técnicas que ajudam a espantar qualquer dúvida de quem está praticando a Lei da Atração. É uma variação da primeira sacada, mas muito mais radical. Losier oferece no livro várias opções do que ele denomina de "ferramentas" e que servem para fulminar todo ceticismo e a vibração negativa. Entre as idéias apresentadas estão:

1)Afirmações que permitem: vc quer fazer algo mas acha que não é capaz? Bom, outras pessoas como vc já conseguiram? Então vc também é capaz! Escreva isso!!
2) Celebre a evidência da prova: conseguiu uma pequena prova da Lei da Atração? Comemore.
3) Registre a prova da Lei da Atração: coloque no papel cada manifestação que vc suponha ser resultado da Lei da Atração.
4) Aprecie e seja grato: seja o que for - encontro com amigos, passear em um dia ensolarado. Isso aumenta a sua vibração positiva e diminui o espaço para as dúvidas.

E por aí vão se sucedendo as ferramentas. Sempre com foco no fim das dúvidas, a grande maldição para que a Lei da Atração funcione. Enfim, por 23 paus (pesquise porque tem livrarias cobrando mais pelo livro) não é um investimento que um leitor ávido por saber mais sobre O Segredo vá pensar duas vezes em gastar. E nem precisa ler o livro antes para dirimir qualquer questionamento na hora de colocar a mão no bolso. De qualquer forma, cada vez mais me convenço que a tal Lei da Atração funciona muito bem é para estes autores...O receba deles é pontual!

Leia outros posts sobre este assunto:
Lei da Atração - primeira parte
Lei da Atração 2
Você acredita na Lei da Atração?
Alimente os Grandes Sonhos
Lei da Atração na prática
Ainda O Segredo - sobre a reportagem na Veja
Tudo vibra
O Caibalion


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segunda-feira, 4 de junho de 2007

Maus efeitos da riqueza

Sêneca continua me surpreendendo. No livro "Da tranqüilidade da alma" ele aborda os efeitos nocivos da riqueza e da ostentação frívola (alguma semelhança com nossos dias consumistas de hoje?). Alguns trechos do capítulo "Maus efeitos da riqueza":

" Passemos ao domínio das riquezas, principal fonte das misérias dos homens, pois, comparando-se todos os nossos outros perigos, prazeres, doenças, temores, desgostos, sofrimentos e preocupações de toda espécie, com os males que nascem do dinheiro, será deste lado que muito claramente penderá a balança....

...O dinheiro se apega tão intimamente à alma, que não se pode arrancá-lo sem dor. É, aliás, eu o repito, mais suportável e mais simples nada adquirir do que perder alguma coisa. Daí vem que se vê um ar mais alegre nas pessoas que a fortuna jamais visitou do que naquelas que ela traiu...Limitemos ao menos a extensão de nossos bens, a fim de estarmos menos expostos às injúrias da fortuna...Para o dinheiro, a verdadeira medida consiste em não cair na pobreza, mas aproximar-se dela o mais possível...

Logo, esta limitação nos será puramente agradável, se tomarmos previamente o gosto pela economia, sem o qual as maiores fortunas são ainda insuficientes e mesmo as mais modestas se prestarão ao desperdício...Habituemo-nos a ter o luxo à distância e a fazer uso da utilidade dos objetos e não da sua sedução exterior (grifo meu). Comamos para matar a fome, bebamos para apagar a sede e reduzamos ao necessário a satisfação de nossos desejos. Aprendamos a andar com nossas pernas, a regular nosso vestuário e nossa alimentação, não sobre a moda do dia, mas sobre o exemplo dos antigos.

Aprendamos a cultivar em nós a sobriedade e a moderar nosso amor ao fausto; a reprimir a vaidade, a dominar nossas cóleras, a considerar a pobreza com um olhar calmo, apesar de todos aqueles que acharão aviltante satisfazer tão modestamente a seus desejo naturais. A não ter nas mãos, por assim dizer, as ambições desenfreadas de uma alma sempre inclinada para o dia seguinte e a esperar a riqueza menos da sorte do que de nós mesmos.

...Tomemos, pois, o hábito de nos abstermos de espectadores quando ceamos...de não termos roupas a não ser para o uso que as criou e de nos alojarmos modestamente. Não é só nas corridas e nos torneios do circo, é também na arena da vida que é preciso saber curvar-se".

Comentário final deste escriba: neste período em que vivemos, em que o consumo responsável e a tal da sustentabilidade se colocam como prementes, não deixa de ser irônico que estas palavras de Sêneca, escritas há milhares de anos, caibam como uma luva nos dias de hoje.

Leia também os posts
Sêneca e a tranqüilidade da alma
Filosofia para o dia-a-dia

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domingo, 3 de junho de 2007

Ainda Chávez

Artigo do Jornalista Janio de Freitas na Folha deste domingo mata a pau a (falsa) questão que envolve a polêmica do fechamento da emissora venezuelana (golpista) RCTV. Diz ele:

"...Sem precisar do óbvio, do acaso e de elaborações é a postura dos meios de comunicação brasileiros em relação a tudo que diga respeito à sua área: prevalece o corporativismo, sem equivalente exceto o dos jornalistas. A dúvida é se o corporativismo dos militares ainda chega a tanto ou vem logo abaixo.Canais de rádio e TV são propriedades das respectivas nações. Sua exploração por particulares é feita pelo regime de concessão. Não sendo resultado de compra ou doação recebida, a concessão está sujeita, mundo afora, às renovações. É o que a Constituição brasileira determina nos cinco artigos do seu quinto capítulo (rádios a cada dez anos, tevês a cada 15).

A necessidade de renovação contém, implicitamente, a possibilidade da não renovação. Mas os princípios constitucionais brasileiros não só a mencionam com explicitude, como vão mais longe: estabelecem a possibilidade de cancelamento, de cassação do canal sem depender de negar renovação.O ato administrativo praticado na Venezuela está de acordo, portanto, com o fixado pela própria Constituição brasileira.

As razões de Hugo Chávez contra uma TV documentadamente comprometida com um golpe de estado compõem outra ordem de discussão, política e ideológica, mas não a de agressão ou violação da democracia. O funcionamento de tevês não atesta, por si, a existência de democracia, assim como a liberdade de expressão não lhes dá o direito de fazerem do canal, concedido em nome do público, o uso que quiserem..."

Portanto, sempre analisem com cuidado o que a imprensa brasileira, principalmente as TVs e alguns órgãos conservadores, como Veja e Exame, costumam veicular sobre a Venezuela. Há muita desinformação causada de propósito para "deformar" a opinião pública e criar uma imagem negativa de Chávez e de suas atitudes, muito embora estejam dentro da lei e com respeito às normas democráticas.

Quem quiser ir mais fundo nesta questão deve ler a reportagem principal da revista Carta Capital desta semana. Texto impecável do jornalista Antonio Luiz M.C. Costa, sob o título Nem Estado nem Mercado, detalha com precisão e imparcialidade todos os aspectos envolvidos na questão. Agora fica aqui só uma questão final: por que o Senado brasileiro tinha que se meter em política internacional? Não tem o Itamaraty para isso?

Leia sobre este assunto o post A Campanha da Imprensa

sábado, 2 de junho de 2007

Gabeira, Congresso e mudanças

É curioso como as pessoas mudam com o tempo. Não que isso seja ruim necessariamente, afinal pode denotar uma evolução. Falo isso porque esta semana fui assistir a uma palestra do deputado Fernando Gabeira a um grupo pequeno aqui em São Paulo. Gabeira sempre foi um personagem transgressor. Na época da ditadura fez parte do grupo que seqüestrou o embaixador americano no Brasil. Depois, na volta do exílio, brindava os fotógrafos com sua sunga de tricô na badalada orla carioca. Defendeu a liberação da maconha, o casamento entre homossexuais e luta pela preservação do meio ambiente. Sempre foi considerado um outsider e até um personagem folclórico por parte da imprensa.

Agora, já no alto dos seus 66 anos e, vejam só, um queridinho da mídia, ele está um pouco mais conservador. Não concorda com a invasão na USP (acha que as negociações têm que ser feitas dentro dos ritos democráticos. E isso dito por quem sequestrou um embaixador americano!), defende uma ação mais enérgica por parte do governo para evitar o que ocorreu na Usina de Tucuruí, acha um contrasenso a greve no Ibama ("param para defender o Ibama e o meio ambiente mas suspendem a fiscalização?") e até se posiciona contra a liberação das drogas no Brasil!.

Algumas destas opiniões podem ser lidas com mais profundidade no site da revista IstoÉ que traz uma entrevista com o deputado. De qualquer forma, a análise política dele me parece mais interessante. Há um grupo numeroso no Congresso que, mesmo cercado e fiscalizado pela sociedade, mídia e justiça, tenta se proteger a todo custo, manter o status quo e as práticas de poder usuais (como a liberação de emendas). São pessoas e métodos de fazer política ultrapassados, que estão com os dias contados e defasados na época e no tempo. O deputado acredita que é o início de uma revolução. Eu tenho minhas dúvidas. Tudo no Brasil tem que ser muito lento e gradual e, quando muda, é para nada mudar. Quem sabe não estou sendo muito cético e preciso reciclar minhas opiniões assim como fez o deputado?

Sêneca e a tranqüilidade da alma

Depois de ver o DVD sobre filosofia da revista Vida Simples (ver post) acabei me interessando por Sêneca, um dos personagens do documentário. Resgatei entre meus livros a coleção Os Pensadores, da Abril Cultural, e lá estava a obra do filósofo nascido na Espanha e um dos mentores de Nero (depois, claro, convidado ao suicídio pelo déspota). O capítulo dedicado a Sêneca é Da Tranqüilidade da Alma, considerado um dos melhores do autor. Ele procura mostrar como evitar a angústia, a irritação e outros percalços que costumam nos tirar do sério. Mesmo tendo sido escrito há centenas de anos, o livro é muito atual e ainda nos convida a reflexão.

Por exemplo, no tópico Fugir a Agitação estéril, Sêneca nos diz:
" ...A primeira coisa a evitar é desperdiçar nosso esforço ou em objetos inúteis ou de maneira inútil: quero dizer. imaginar ambições irrealizáveis ou reparar um pouco tarde, uma vez satisfeitos nossos desejos, que nos esforçamos sem proveito. Em outras palavras, evitemos de um lado os esforços estéreis e sem resultado, e de outro lado os resultados desproporcionados ao esforço. Pois é quase certo que nosso humor se entristeça, seja depois de um insucesso, seja depois de um sucesso do qual nos temos de envergonhar...

...Este é também o pensamento de Demócrito (filósofo grego), quando ele começa nestes termos:
Quem quiser viver com alma tranqüila não deve ter muitas ocupações: nem de ordem particular nem de ordem pública. Trata-se aqui naturalmente de ocupações inúteis, pois, desde que elas são necessárias, devemos, tanto particulares como públicas, ter não somente muitas, mas inúmeras; ao contrário, quando nenhum dever imperioso nos ordena, devemos saber reprimir nossa atividade. Pois quem multiplica suas ações se expõe a cada instante à sorte. Ora, o mais certo é provocá-la o menos possível, mas pensar nela sem cessar, sem jamais confiar na sua constância...

Eis que isto nos leva a dizer que nada acontece ao sábio contra sua expectativa: não o subtraímos das desgraças humanas, mas sim dos vícios humanos; e todas as coisas lhe sucedem não conforme seus desejos, mas conforme suas previsões. Ora, o que ele prevê, antes de tudo, é que os obstáculos podem sempre opor-se aos seus projetos. Não é, pois, evidente que o pesar causado por uma decepção é bem menos sensível quando não se prometeu antecipadamente o sucesso com segurança?"

Voltarei a Sêneca em outros posts.

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