sábado, 8 de setembro de 2007

Pitbulls e a deformação da opinião pública

Tenho uma cadela da raça pitbull. Seu nome é Mel e está com quase 8 meses e 18 quilos. Rápida e brincalhona, o animal é companhia constante nas minhas caminhadas pelas ruas do bairro. Seriam até passeios diários se o dia-a-dia no trabalho não fosse tão massacrante. O engraçado é que nunca dei muita bola para cachorros em geral. Um dia, como a patroa implorava por ter um, fomos até um desses mega-petshops. Lá minha esposa se encantou justamente com um filhotinho de pitbull. A raça ela só foi saber depois. Pensava que fosse um vira-lata ou um labrador.

A Mel realmente engana porque não é pitbull do tipo red noise, aquele mais comum que vemos em fotos. Tem o focinho comprido e pelo curto da cor creme sem manchas brancas, outras características que não combinam com um pitbull do nosso imaginário. Como decidimos não cortar as orelhas e o rabo (providência largamente utilizada pelos donos destes cães), muitas pessoas não reconhecem de imediato a nossa cachorra como um pitbull. Brincam, passam a mão no pelo, fazem mil agrados e depois perguntam: que raça é? Quando dizemos que é pitbull, as reações são fantásticas. Alguns pulam de lado, outros mudam rapidamente a feição e se afastam só uns poucos, os que conhecem realmente cachorro, é que não se importam e continuam a brincar com a cadela.

E essas reações negativas se baseiam principalmente na lavagem cerebral que parte da imprensa faz a partir dos tais ataques de pitbulls a crianças e idosos, por exemplo. Não se discute aqui se o fato ocorreu ou não. Claro que existiu. Pessoas se machucaram ou morreram por causa de algum ataque destes animais. Mas o que me incomoda é que se faz um jornalismo preguiçoso, alarmista, de manchete fácil. É muito melhor tratar o assunto como um drama do que investigar o que levou o pitbull a ter aquele comportamento. Porém, fazer essa investigação dá trabalho, exige tempo e recursos. E assim ficamos na epiderme do assunto e a deformação da opinião pública vai se perpetrando. Daí para aparecer algum político oportunista propondo uma lei absurda do tipo extermínio da raça de pitbull, será um passo.

Aí com um projeto desses na pauta e a mídia bombando desinformação é claro que haverá quase um clamor popular para ocorrer alguma bobagem dessas. Não terá governante com coragem suficiente para comprar uma briga dessas. É quase um prato-feito. Ninguém que dependa de votos vai se opor a uma medida que contrarie os "mais nobres anseios da população". Afinal, logo logo tem eleição...

Para mim, a discussão sobre o pitbull deve antes passar por uma investigação mais criteriosa das causas que levaram esses animais a ter um comportamento agressivo. E isso não se vê nas reportagens. Só a seguinte estrutura é mostrada: cão ataca e pessoa morre - família indignada - vizinhos temerosos - cão é morto no centro de zoonoses. Certo, mas o que levou o cão a fazer isso? Que treinadores respeitados de animais foram ouvidos para explicar como se desperta o lado agressivo de um cachorro? Claro, que nada disso foi questionado e optou-se pelo caminho mais fácil e demagógico.

Não sou o maior especialista vivo em cachorros. Estou aprendendo a cuidar de um, mas já li livros e conversei com vários treinadores. Todas as fontes são unânimes em dizer que o pitbull não é um cachorro agressivo. Ele só se torna agressivo se o dono cometer vários erros, como treiná-lo para atacar, bater e maltratá-lo, deixá-lo confinado diariamente em um curto pedaço de terreno, mantê-lo preso o tempo todo em uma corrente, não fazer nenhum tipo de atividade rotineira com o cão etc etc. Um coisa dessas feitas regularmente prejudica o comportamento de qualquer cachorro e não só de pitbull. É uma fórmula infalível para transformar cães normais em maníacos de quatro patas.

Portanto, a lei tem que existir é para o dono do cachorro. É ele quem precisa cuidar corretamente do cão para que o animal não vire um delinquente canino. Ou seja, a pessoa tem que ter responsabilidade e não achar que pode tratar de qualquer jeito um cachorro. Eu sou um dono responsável e minha pitbull Mel é brincalhona e adora carinho, principalmente de crianças. Como eu outras pessoas têm cachorros desta raça com o mesmo comportamento pacífico. Será uma injustiça que todos sejam prejudicados por causa de meia dúzia de celerados que não trataram corretamente o seu cão.