terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A difícil arte de fazer estrelas trabalharem em equipe


Não deve ser fácil ter um monte de estrelas na equipe e não ver o time funcionar na partida. Mike Brown, que até o início de novembro era o técnico do Los Angeles Lakers, que o diga. Uma dos principais franquias do basquete americano teve um dos inícios de temporada mais desastrosos da história. Venceu apenas uma partida em 13 disputadas entre a pré-temporada e o início do campeonato. Como resultado, e lembrando um pouco a realidade no futebol brasileiro, o técnico caiu.

E caiu porque, segundo os críticos, não teria conseguido montar uma equipe competitiva, apesar de contar com veteranos como Kobe Bryant e Steve Nash ou estrelas como o espanhol Paul Gasol e o recém-contratado Dwight Howard. No papel, um timaço. Em quadra, saco de pancada.

Misturar no caldeirão de uma equipe um monte de estrelas não necessariamente transforma o time em um supercampeão. Que o diga o Real Madrid quando iniciou a temerária jornada dos Galacticos. No início dos anos 2000, contratou Zinedine Zidane, Ronaldo, Figo, Roberto Carlos e Beckham. E os resultados foram pífios. E não adiantou trocar de técnico.

No Brasil, tivemos uma experiência parecida. Em 1995 o Flamengo apostou no que se chamou na época de o melhor ataque do mundo.  Contratou Romário (que havia sido campeão pelo Brasil na Copa de 94), Sávio (a grande revelação na época) e Edmundo (no auge da carreira). Na prática, funcionou? Não. Outro fiasco. E a equipe só veria um título em 96, o Estadual do Rio de Janeiro, e já sem contar com Edmundo.

Óbvio que em cada caso mencionado existem várias explicações possíveis para os maus resultados.  Mas acredito que existe um denominador comum em todas elas. O Ego. Saber lidar com esta característica na personalidade de cada um de nós é uma arte. E são poucos os líderes que conseguem tirar o máximo proveito de suas estrelas.

Com o Ego fora de controle costumam vir todas aquelas emoções que os espiritualistas e filósofos tentam há séculos domesticar no ser humano: a inveja, a vaidade, a raiva, o ciúme, a mágoa, o despeito, o orgulho, a ansiedade... Enfim, um Eu fora da jaula e sem limites. Imagine essas características em diferentes gradações entre os atletas de uma equipe.  Para domar este quadro, você não precisa de um técnico e sim de psicólogo.

Talvez esta seja a resposta para um case de sucesso. Um não, dois. Phil Jackson é um dos mais premiados treinadores de basquete dos Estados Unidos.  Foi campeão seis vezes pelo Chicago Bulls, na época de Michael Jordan, Scott Pippen e Dennis Rodman, e outras cinco com o Los Angeles Lakers, de Shaquille O´Neal e Kobe Bryant .

Budista, adepto da meditação e com cursos de psicologia na bagagem, Jackson conseguiu tirar o máximo das equipes que dirigiu. E convenhamos que não deve ter sido  fácil fazer o então bad boy Dennis Rodman jogar em equipe com o Chicago Bulls. Na prática, ele fazia os jogadores meditarem antes dos treinos e, no dia a dia, repetia para eles, como um mantra, frases como “O poder do nós é mais poderoso que o do Eu”. A ideia era esvaziar a mente das estrelas, acalmá-las e fazê-las jogar como equipe.

Com o sucesso, Jackson esmiuçou esta sua técnica em vários livros. Um deles chegou a ser editado no Brasil com o nome de Cestas Sagradas.  Em um trecho ele explica que o que ‘contamina a mente é o nosso desejo de conseguir que a vida se comporte segundo a nossa concepção particular de como as coisas têm que ser, em contraposição ao que realmente são..Os pensamentos por si só não são um problema. É o nosso desesperado apego a eles e nossa resistência à realidade que nos causa a angústia ’.

Outro ponto de destaque é a sua atitude compassiva com os jogadores. Ele não fazia o tipo treinador austero e déspota. Ao contrário, procurava se identificar e entender o que se passava com cada atleta. “Isso fazia com que o jogador se sentisse menos ansioso, mais feliz, já que alguém estava entendendo o que ele estava passando. A partir daí havia um efeito multiplicador na equipe, pois inspirava outros jogadores a responder amavelmente e a ser mais conscientes das necessidades de uns e outros”.

Não por acaso ele ganhou o carinhoso apelido de Zen Master entre os atletas. Considerado um dos 10 maiores técnicos da história, Phil Jackson se aposentou em 2011 no próprio Lakers. Curiosamente, enquanto escrevo este artigo, leio no New York Times que a franquia da Califórnia quer de volta o velho mestre zen para dirigir a equipe e colocar ordem no garrafão. Quem sabe não seja mais uma oportunidade para o budista tirar o máximo das estrelas?