sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Megaupload, Pablo Escobar e o marketing furado

O fechamento do site de compartilhamento Megaupload e a prisão de seu proprietário Kim Schmitz, conhecido no mundo virtual como Dotcom, mostram como está ficando perigosamente cada vez mais similar a criminalização na internet com o falido combate ao narcotráfico. Se no passado tínhamos traficantes como Pablo Escobar ou Escadinha, para lembrar apenas de dois, na área virtual já tivemos o Mininova e agora o Megaupload. Rei morto, rei posto. E vai continuar sempre assim até que se discuta o óbvio: por que esses "serviços" são tão procurados? A resposta é óbvia: porque existe demanda.
     Não vou aqui fazer apologia para a liberação das drogas. Pode ser um bom tema para outra oportunidade. O que eu quero neste post é analisar o motivo destes sites de compartilhamento serem tão acessados. Tenho uma hipótese de que não se trata de conseguir apenas um conteúdo de graça, mas conseguir este conteúdo. Explico. A BBC tem várias excelentes séries de TV. Uma delas é sobre Sherlock Holmes, que no início deste ano teve sua segunda temporada (foram três episódios). Pois bem. Até hoje nenhum canal de TV no Brasil se dignou a mostrar a primeira temporada que foi ao ar há um ano.
     Outro exemplo. O filme Moneyball, com Brad Pitt, já estreou há meses nos Estados Unidos, mas estava com sua previsão de lançamento marcada para fevereiro aqui no Brasil. Previsão porque a distribuidora ainda não tinha se convencido de que a temática do filme agradaria ao público brasileiro, pois trata-se do universo do beisebol. Nem vou aqui mencionar com detalhes as séries de televisão que já terminaram há mais de um ano e que só agora chegam aos canais abertos. 
     No século passado, nós consumidores tínhamos que nos sujeitar e a nos resignar a esta lógica do marketing das grandes corporações. Mas com a chegada da internet este jogo, e muitos outros, tiveram suas regras mudadas drasticamente. Graças aos sites de compartilhamento tenho acesso a todos estes conteúdos de que sou privado por algum gênio do marketing que acredita poder decidir o que posso ou não assistir diante de suas conveniências comerciais.
     Estes imperadores romanos vivem seu ocaso por não conseguirem mudar seus próprios paradigmas. E o que fazem? Vão com unhas e dentes bater na porta de governos, polícia e judiciário para mover o poder estatal no combate do que eles qualificam de crime ao direito autoral ou pirataria. E, como demostram o fechamento do Megaupload e o projeto de lei nos EUA para cercear draconianamente o uso da internet, os dinossauros estão conseguindo expressivas vitórias. A maior de todas é a de empurrar o Estado para este jogo da criminalização, como o combate às drogas nos jogou no passado neste pântano atual aparentemente sem saída.
     E qual seria a solução óbvia para impedir a proliferação da pirataria? Disponibilizar o conteúdo oficialmente por meio dos sites das empresas que produzem este material, como BBC, Sony, Warner, FOX, HBO, etc, ou a criação de um portal que agregaria tudo isso em um só lugar. Obviamente não seria oferecido de graça, mas o serviço poderia obedecer a mesma lógica das televisões a cabo: com uma assinatura mensal você tem todo o conteúdo possível que quiser sem restrição. 
     Não parece ser algo impossível de ser feito. A questão é disposição para investir neste novo mundo e criar outros paradigmas. No entanto é muito mais confortável e previsível querer que os modelos de negócio continuem do mesmo jeito como eram no século 20. Com o bônus de ter a polícia de graça para combater os criminosos cibernéticos. Até quando vamos aceitar passivamente este jogo furado?