segunda-feira, 7 de maio de 2007

Biocombustível x fome

Outra boa polêmica é essa de que com o biocombustível resolvemos um problema e criamos outro com o encarecimento do preço da comida. Isso porque os agricultores só vão pensar em plantar cana-de-açúcar (no Brasil) e milho (nos Estados Unidos) deixando em terceiro plano o cultivo de alimentos. Obviamente que a lei da oferta e procura é implacável e com menos produtos sendo colhidos e consumo em crescimento o desastre está logo ali na esquina. Mas aí chega a turma do deixa disso, nunca vai acontecer, tudo isso é mito etc etc etc. Duas boas reportagens sobre este tema foram publicadas nas revistas Exame (edição 892) e na Época Negócios (edição 3).
Na Negócios há um artigo de Robert J. Samuelson, jornalista americano e colunista da Newsweek, que mostra que este problema de troca de cultura já está ocorrendo nos EUA. Diz ele "...o etanol conta com subsídios federais significativos. O subsídio leva as refinarias de petróleo a comprar mais etanol e aumenta a demanda pelo milho. É lógico que os produtores de milho adoram essa situação. São eles os principais beneficiários do programa. Embora o etanol substitua somente uma fração ínfima de todo o petróleo consumido nos EUA (pouco mais de 1%), seu impacto tem sido enorme sobre os preços do milho. Hoje, o milho custa de US$ 3 o alqueire, ante US$ 2 em 2006. É o maior preço em dez anos. Esse milho mais caro (utilizado na alimentação de aves de criação, suínos e rebanhos em geral) induz o aumento do custo da carne comercializada no varejo. Ironicamente, os subsídios concedidos ao combustível podem encarecer os preços dos alimentos..."
Já a revista Exame cita a The Economist sobre este assunto. Diz lá que existe o bom etanol e o mau etanol. A produção brasileira estaria do lado bom e a americana do lado mau. "Nos Estados Unidos, a briga por espaço no campo entre culturas destinadas à comida e à energia é uma realidade. Como o terreno para expansão agrícola é bem mais restrito por lá, as plantações de milho só podem crescer se roubarem espaço de outras culturas...As mudanças no agronegócio americano são tão abruptas que a capital do gado, o Texas, transformou-se na terra do etanol...Está cada vez mais claro que o modelo de negócios em que se sustenta hoje é equivocado..."
A revista Exame prossegue informando que isso não deve acontecer no Brasil "...O Brasil não reduziu seu ritmo de produção de alimentos. Pelo contrário. A atual safra de grãos, de 125 milhões de toneladas, bateu recorde histórico. Além disso, o país tem hoje as melhores condições para multiplicar as áreas de canaviais, sem prejuízo de outras culturas. Teríamos algo como quase 80 milhões de hectares de terras disponíveis para plantio de cana. Algo equivalente à soma dos territórios da Alemanha e Espanha. "Além de termos terra sobrando, somos campeões de produtividade em etanol", afirma Eduardo Carvalho, presidente da União da Indústria de cana-de-açúcar". Mas a reportagem concede que o avanço do plantio da cana é um risco ao meio ambiente: ..."queimadas estão destruindo largas porções de florestas nativas na Ásia. No Brasil, os canaviais estão empurrado a pecuária para áreas de preservação ambiental."
Bom, a lógica diz que essa estratégia de biocombustíveis pode resolver um aspecto da questão, mas não quer dizer que será a melhor solução possível. Como diz o jornalista Robert Samuelson "é preciso reduzir a dependência do petróleo. A maneira óbvia é aperfeiçoar o desempenho dos veículos, para que sejam de 30% a 50% mais econômicos nas próximas décadas. Precisamos de mais carros híbridos (combustível + energia) e de menor porte. Os biocombustíveis podem ser usados como complemento, mas, se nos cegarem para a realidade maior, podem nos levar ao retrocesso."

Alguns links para posts sobre sustentabilidade

Lixo nuclear em casa
Em Busca de mais energia
Um trecho de A vingança de Gaia
A tal de sustentabilidade
Uma visão holística e ecológica
Salvar o planeta

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