segunda-feira, 25 de junho de 2007

São João, Jesus e festas pagãs

O despretensioso post anterior trouxe, para minha surpresa, uma série de e-mails solicitando mais explicações sobre a festa de São João e sua origem como festa pagã. Bom, para explicar um pouco mais vou precisar usar algumas informações colhidas em dois interessantes sítios. Um é o blog Madras e o outro o site Jangada Brasil. Nos links vocês têm acesso à íntegra dos textos. Abaixo fiz um resumo com as informações principais.

No Madras, com inclinação para a Maçonaria e uma análise mais ampla, o que inclui até o mito do nascimento de Jesus, o artigo de Wagner Veneziani Costa e Celso Ferrarini explica que " Na mesma data em que se comemora o solstício de verão, 24 de junho, no Hemisfério Norte, dia de São João Batista, estamos comemorando aqui, o solstício de inverno. Recordemos as festas juninas (São João). No dia 25 de dezembro, comemoramos o solstício de verão e, no Hemisfério Norte, o solstício de inverno. É a data do nascimento de Avatares como: Krishna, Mitra, Hórus, Buda e Jesus Cristo, todos considerados grandes Sóis (Deuses)...

...Os primeiros cristãos do Império Romano, para escapar às perseguições, criaram o hábito de festejar o nascimento de Jesus durante as festas dedicadas ao deus Baco, quando os romanos, ocupados com os folguedos e orgias, os deixavam em paz.Mas a origem mitraica é a que é mais plausível para explicar essa data totalmente fictícia: os adeptos do mitraismo costumavam se reunir na noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa e mais fria do ano, numa festividade chamada – no mitraismo romano – de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol triunfante). Durante toda a fria noite, ficavam fazendo oferendas e preces propiciatórias, pela volta da luz e do calor do Sol, assimilado ao deus Mitra. O cristianismo, ao fixar essa data para o nascimento de Jesus, identificou-o com a luz do mundo, a luz que surge depois das prolongadas trevas...

... entre os romanos a (religião) predominante fosse a da adoração à Mitra, que era representado por uma figura humana. No lugar da cabeça, um Sol. Havia muitos outros deuses, notadamente, Jano, com suas cabeças que, sabidamente, simbolizavam os solstícios. Esses solstícios estavam sempre presentes nas festas pagãs, porque eram vinculadas à Natureza. É aí que encontramos uma provável explicação histórica para os festejos juninos e natalinos, que a nova religião romano-cristã, não podendo desenraizar dos costumes populares, o mínimo que conseguiu foi a substituição.

...O solstício deve ser comemorado com “ágapes solsticiais”. Isso não significa se reunir para comer ou beber, mas sim para compartilhar, agradecer e unir energias a serviço do “Mais Elevado” e da ajuda à humanidade. E por esse motivo, compartilhar uma comida simples.
O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado – como fonte de calor e de luz – o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical."

No site a Jangada Brasil a explicação segue quase pelo mesmo caminho, mas acrescenta algumas informações. " Tal festa não é brasileira e muito menos católica. Ela é tudo o que há de mais profundamente humano e de mais visceralmente pagão. Velha conto o mundo, se tem transformado ao sabor de cada meio e ao gosto de cada povo. E a religião católica, com a sua extraordinária habilidade, não a esqueceu, quando organizou, no correr dos séculos, as suas festas, adaptando-a ao seu espírito e dando-lhe como patrono um santo cujo dia fica justamente na época do ano em que o paganismo morto a celebrava. Todos os santos do cristianismo são mais ou menos, filhos dos antigos deuses....

...As cerimônias dessa festa... constavam de danças em redor da fogueira, de festins, da colheita de certas ervas mágicas que se deviam guardar sobre si para obter felicidade, da conservação, durante o ano, com o mesmo fim, dos carvões da fogueira. São, mais ou menos, as mesmas cerimônias que Ovídio descreve nos Fastos, no livro quinto, renovadas a cada aniversário da fundação de Roma.

...A festa de São João é a festa de Agni, do fogo, a festa que comemora o solstício do verão. E Santo Elói, no século VII, quando ainda a igreja a não adotara, trovejava contra ela: "Não vos reunais, - dizia ele, numa encíclica aos seus diocesanos, na época dos solstícios. Nenhum de vós deve dançar, ou pular em torno do fogo, nenhum de vós deve cantar no dia de São João. Por que essas canções são diabólicas!"Em Roma, segundo Ovídio, que nela participou, a festa do solstício se chamava Palilia. Era a festa do deus, ou da deusa Palés: "sive deus, sive dea". Então, narra o autor dos Fastos, se acendiam fogueiras, em cuja cinza se cozinhavam favas, ornavam-se as casas e estábulos de ramos verdes, recitavam-se três vezes certas orações, atravessava-se pelo meio das chamas, sorrindo e cantando, porque o fogo tudo purificava, homens e rebanhos.

Essa sobrevivência do velho culto ariano de Agni, o benéfico e o protetor, passou de Roma para as nações bárbaras que se formaram sobre as ruínas colossais do Império, conquistadas pouco a pouco pela cultura latina. ..A reminiscência da roda de chamas é o uso atual de jogar fogo de rodinhas de papelão orladas de estopim, em cujo centro há pinturas curiosas e, às vezes, a face do Batista. Essas rodinhas, presas por um prego à ponta de uma vara, queimam, rodopiando, e recordam a antiga grande roda inflamada das superstições medievais, como a passagem purificadora pelo fogo, que Ovídio aconselha, é a mesma que nós realizamos nas nossas fogueiras de São João, com intuitos de ser felizes durante o ano, ou para obter o compadresco singelo. Obedecemos nisso à força insuperável da tradição milenária, indestrutível, que celebra no dia de São João o solstício do verão, como no dia de Natal o solstício de inverno. A igreja adaptou essas celebrações à sua maneira ..."

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