quarta-feira, 27 de junho de 2007

Saúde, cerveja e aborto

Já disse em posts anteriores que o ministro da Saúde tem toda a razão quando toca na questão do aborto. Em entrevista à Folha, José Gomes Temporão foi mais longe e não só defendeu a legalização e a adoção da pílula do dia seguinte como também mexeu em outro assunto tabu em nossa sociedade: o consumo de bebidas alcoólicas. Claro que a mídia nem quer chegar perto deste tema. Teme perder as gordas fatias de publicidade que as cervejarias torram anualmente. Mas o fato é que o consumo aumenta ano a ano como diz o ministro:"De 2005 para 2006 o consumo de cerveja no Brasil cresceu 7,5%, e os brasileiros beberam a mais dois litros por capita por ano. " Ou seja: há cada vez mais mais pessoas que se arriscam a ser dependentes da bebida. Sim, porque bebida alcoólica vicia assim como o cigarro e as drogas ditas "pesadas". Portanto, abram o olho: cerveja e destilados em geral também causam dependência.
Abaixo alguns dos trechos da entrevista:

ABORTO CLANDESTINOO número de abortamentos clandestinos no Brasil foi de 1,040 milhão em 2005. Para cada três crianças que nascem foi realizado um aborto induzido. Como estamos atendendo no sistema de saúde 220 mil curetagens pós-aborto, se há crime, teríamos que prender todos os dias 780 mulheres, mais os médicos e enfermeiros.É uma discussão [aborto] que vai para o campo da religião, da filosofia, da moral, fica uma coisa abstrata. Mas não trabalho com abstrações, trabalho com as 170 mulheres que morreram em 2005 -quarta causa de óbito materno.

CONTRACEPÇÃO
O ministério usará sim a pílula do dia seguinte, ela é uma arma importante no sentido da prevenção da gravidez indesejada. O que houve na política que lançamos é que, como estamos ampliando o acesso ao anticoncepcional na rede de farmácias, e esse programa pressupõe receita médica, e a utilização da pílula do dia seguinte pressupõe a não necessidade de apresentar uma receita médica -seria um disparate você ter que procurar um médico para prescrever-, minha equipe está vendo como encaixar a pílula do dia seguinte em nossa estratégia, em que estará, com certeza absoluta.

INÍCIO DA VIDA
Ninguém defende o aborto por si só. Nosso problema são mulheres que engravidaram e se defrontam com uma situação difícil, na maioria das vezes dramática, e como é que o Estado apóia esse processo. Apóio [aborto induzido] até o início do desenvolvimento do sistema nervoso central, em torno da 12ª semana de gravidez. Porque até ali não há consciência, não há sofrimento, não há dor. Há um conjunto de especialistas, médicos e até filósofos, que apóiam essa perspectiva. A única coisa que não aceito nessa discussão é alguém negar que essa é uma questão de saúde pública. Aí tem a visão da igreja, da família, do cidadão, mas negar que essa é uma questão de saúde pública, que mata mulheres, que traz sofrimento e dor, é uma irresponsabilidade.

ÁLCOOL
De 2005 para 2006 o consumo de cerveja no Brasil cresceu 7,5%, e os brasileiros beberam a mais dois litros por capita por ano. A indústria jura que não é por causa da propaganda, é o aumento da renda. Com a propaganda de cigarro havia a mesma discussão, de liberdade de expressão. Acho que a gente poderia até ser mais ousado, é uma polêmica saudável. Outra polêmica saudável é que os artistas deveriam refletir mais sobre seu papel na sociedade. Como você coloca sua imagem, seu talento, e a serviço do quê. Tem uma música nova que diz que a solução é latinha na mão. Não dá.

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