terça-feira, 18 de outubro de 2011

Compreendendo Jesus

Não, este post não é uma pregação de e para evangélicos. Nada contra quem utiliza os espaços de comunicação para falar sobre Jesus e evangelizar as pessoas, mas não é essa a proposta deste blog. No entanto,  nos interessa entender algumas passagens da pregação de Cristo pela Terra seja por seu conteúdo humanístico e filosófico seja pela busca por uma elevação espiritual.
     Mas não é fácil compreender suas palavras. Seu jeito rebuscado de falar, quase barroco, cheio de nuances e camadas de leitura não tornam a vida fácil de quem quer conhecer um pouco mais os ensinamentos de Jesus. Existe um mito de que Cristo falava por parábolas para facilitar a compreensão das pessoas mais humildes de sua época. Duvido. Se até hoje nós temos dificuldades de interpretação, imaginem há dois mil anos. Tenho cá com meus botões que muita gente confunde parábola com fábula. Esta sim é de fácil assimilação e contém um conteúdo moral evidente. Na parábola, os significados não são tão simples e a história algumas vezes fica confusa e pouco linear.
     As próprias pregações de Jesus também não eram realizadas em discurso direto e claro. Seus sermões, por exemplo, precisam ser lidos com muito cuidado, pois cada palavra pode ter um significado oculto. Só após isso é que pode ser feita uma interpretação mais consistente. Nos evangelhos de Lucas, Mateus, Marcos e João, aparece o relato das ações de Jesus e a transcrição de algumas de suas falas, mas não há interpretação do que foi dito. Nenhum deles esclarece o que o mestre quis dizer com, por exemplo, "bem-aventurados os pobres de espírito" . O que me leva a considerar que os discípulos também não entendiam bem aquela prosa toda.
     Curiosamente, o ponto de virada do cristianismo se dá justamente quando uma pessoa que não era um discípulo direto pega as palavras de Jesus e começa a interpretá-las e esclarecê-las para o dia a dia da gente comum. Este cidadão foi Paulo. Foi ele que levou a palavra aos gentios (não hebreus), cujos discípulos torciam o nariz, fundou comunidades cristãs em várias partes do império romano e mantinha uma notável correspondência com elas na qual procurava explicar as palavras de Jesus.
     Desta forma, o cristianismo pegou entre a população e virou uma religião planetária. Mas desde então, interpretar as palavras de Jesus se tornou uma prática corriqueira e muito papel, tinta e saliva foram (e ainda são) gastos na tentativa de explicar aquelas frases tão estranhas e de significado tão amplo. Um livro que faz isso bem em uma linguagem acessível é "Os quatro sermões de Jesus", de  Paulo Alves Godoy. Lá  você encontra uma possível explicação para a frase pinçada acima.
     Pobres de espírito, ele ensina, não tem a ver com pessoa sem inteligência, mas quem é simples, humilde, "pois para estes está reservada a conquista do reino dos céus, que tem entre nós o sentido de reforma interior". Os orgulhosos e arrogantes se preocupam com as conquistas no mundo material esquecendo-se do mundo espiritual. Já os simples e humildes compreendem a justiça divina e se preparam melhor para a vida futura do seu espírito.
     E esta é uma das interpretações. Outros autores podem fazer considerações um pouco diferentes, mas o importante é enxergar nas palavras das pregações formas de melhorar sua conduta como ser humano e buscar uma reforma íntima, onde mágoa, raiva e inveja não mais nos desarmonizariam. Tarefa difícil, mas, como diria aquele guerrilheiro chinês, o primeiro passo de uma longa caminhada sempre é o mais desafiador. O importante é começar.

Leia também:
Compreendendo Jesus 2
Por parábolas
Bem-aventuranças: o sermão
Os pobres de espírito
Os tristes felizes

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