quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Os tristes felizes

No sermão da Montanha, Jesus segue o seu rosário de bem-aventuranças. Já mencionamos os pobres de espírito no post anterior. Agora, a frase encontrada no evangelho de Mateus (5:4) é “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.  Uma versão mais moderna destas palavras seria algo como “Felizes os tristes, pois serão consolados”.
     De bate pronto, parece que estamos lidando com um Deus sádico que quer ver todos nós sofrendo. Isso não faz muito sentido se você acredita em uma divindade que nos quer bem, como Jesus cansou de pregar. Bom, se a leitura direta não é a mais adequada, qual seria então a interpretação apropriada?
     Se você for espírita, conhece a lei da ação e da reação, uma variação do carma. Simplificando, se em uma encarnação você foi uma pessoa que abusou de práticas pouco éticas e enveredou pelo mau caminho, na próxima você terá que fazer algum tipo de acerto de contas. Poderá, por exemplo, sofrer de alguma doença, viver sempre em dificuldades financeiras etc.
     Você vai padecer de tudo isso para ser testado a seguir em frente com resignação e sem tentar atalhos criminosos. Passando por essas provas com coragem e correção, você consegue melhorar, digamos, seu saldo cármico. Ou seja, você tem mais chances de sair do “Serasa espiritual”.
     Óbvio que seria mais fácil aceitar as pedras no caminho se soubéssemos que passamos por dificuldades nesta vida porque estamos pagando por males feitos no passado. Mas como desconhecemos isso, corremos o risco de levarmos esta prova para o lado negativo e seguir uma jornada não apropriada. É fácil ficar revoltado, perguntar por que comigo?, entrar em depressão  e até mesmo ir na direção do suicídio ou do crime.  Afinal, temos o tal do livre-arbítrio que nos permite escolher a estrada que queremos percorrer: a da dor ou a do amor.
     Por isso que a frase de Jesus diz que serão felizes os sofredores, pois serão consolados.  Estes vão passar por maus bocados na Terra, mas, se agirem corretamente, quando desencarnarem conseguirão se elevar espiritualmente.
     Na interpretação católica, a frase de Jesus ganha outra conotação, mas não muito diferente da dos espíritas na parte da resignação às dificuldades. O monge Anselm Grün, no livro Bem-aventuranças Caminho para uma vida feliz, explica  que “consolo é firmeza. Quem assume a tristeza em relação a sua vida não vivida, a suas carências e perdas, ganha nova determinação. Tem chão firme sob os pés. Consegue ficar forte em relação a si mesmo. Conquista uma posição sólida...e experimenta o apoio de Deus, que fica ao seu lado e o sustenta para que, vencendo  suas fraquezas, possa entrar em contato com o seu verdadeiro ser...”
     Portanto, diante dessas interpretações, nada de muitas lamúrias frente às dificuldades já que você pode estar pagando por um saldo negativo de vidas passadas e/ou se fortalecendo para alcançar a paz interior.

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