terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os amáveis

Em nossa escalada pela montanha da elevação espiritual, na busca pela reforma interior, vamos hoje conhecer um novo degrau.  Quando Jesus fez o sermão da Montanha, uma de suas frases emblemáticas foi algo como felizes os amáveis, pois eles herdarão a Terra. No evangelho de Mateus (5:4), a frase literal seria “Bem-aventurados aqueles que são mansos, porque possuirão a Terra”. Um pouco mais para frente temos o seguinte versículo que complementa a frase acima (5:9): “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados de filhos de Deus”.
     Este degrau é um dos mais complicados para se alcançar, pois trata do combate aos sentimentos negativos mais comuns que temos, como a raiva, o ódio, o orgulho e a impaciência. Complicado porque neste mundo hostil em que vivemos não é nada fácil ser manso e pacífico. Sugere até uma irrealidade, como se tivéssemos que viver como Polyanas em um mundo cor de rosa.
     Porém, se pararmos para pensar um pouco percebemos que estes sentimentos negativos, por mais comuns que sejam, nos levam sempre ao desequilíbrio emocional. Por tabela, nos sentimos mal após a catarse. Neste momento, a razão que foi escanteada pela emoção, retoma o controle e nos mostra que aquela atitude não foi a mais adequada.
     Um padre da época primitiva da Igreja, quando o humanismo ainda era a tônica das mensagens eclesiais, percebeu que a chave para se ter o controle das emoções era a de treinar a busca incessante pela mansidão. Ou seja, era uma virtude que precisava ser adquirida. Nas palavras de Gregório de Nissa, “felizes aqueles que não cedem facilmente às moções da paixão da sua alma, mas que, por meio da moderação, preservam a calma interior; aqueles nos quais a razão, como uma rédea, freia os impulsos e não permite que a alma dispare descontroladamente em atos violentos”.
     Quem trilha este caminho com o coração e não apenas na aparência, pode conseguir mudanças interessantes no comportamento das pessoas com que interage, segundo diz o monge Anselm Grün. “Mansidão e amabilidade podem ter uma influência boa sobre a resistência dos colegas de trabalho....Ela (a mansidão) é como a água que amolece a pedra dura”.
     Anselm acredita que para conseguirmos chegar neste estágio precisamos primeiro ter compaixão interna. Ele ensina que pessoas que nunca estão satisfeitas consigo mesmas e, por tabela, com outros seres, jamais alcançarão a harmonia. O antídoto seria sermos menos rígidos com nós mesmos. Só assim teremos condições de estarmos em harmonia interior e com as demais pessoas. “O manso tem a coragem necessária para admitir tudo o que acontece em seu íntimo...Quando fica firme em sua mansidão, também no trato das pessoas, modificará a terra”.
     Para os espíritas kardecistas, o trecho  “herdarão a Terra” desta bem-aventurança teria o significado de que no futuro, quando nosso planeta deixar de ser um lugar de provas e expiações para se tornar um mundo de regeneração, os mansos e pacíficos, aqueles que cultivaram o amor e a caridade com o próximo, vão permanecer por aqui. Já as pessoas (espíritos) cujas vibrações estejam fora desta sintonia vão ser levadas para outro planeta e iniciarão nova jornada rumo à paciência e à mansidão.


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