quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Erundina

Leio perplexo que a deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, foi condenada em última instância a devolver R$ 350 mil por um anúncio publicado na Folha de São Paulo sobre uma greve que ocorreu em seu mandato. Diante do resultado do julgamento, ela teve seu apartamento e dois veículos penhorados, que juntos, não chegaram perto de pagar a dívida. Amigos estão levatando recursos por meio de jantares e em depósito em conta corrente (leia o relato aqui).

A minha perplexidade é que algumas coisas neste país não fazem muito sentido. Como pode a Erundina, uma política honesta, ser condenada por algo tão prosaico enquanto pessoas que quebraram bancos para eleger sucessores ou construíram túneis mais caros do que o do Canal da Mancha continuam livres, soltos e fagueiros?

Talvez o preconceito e a má vontade com certas pessoas explique um pouco isso. No dia da eleição da Erundina eu trabalhava em uma rádio de notícias aqui em São Paulo e atendi na recepção um jovem que se dizia promotor e que estava estarrecido com a vitória dela, que isso não era possível e que São Paulo iria virar um caos. Aquele momento foi emblemático para mim de como se comportam alguns setores da elite, principalmente de São Paulo.

O resultado é que nunca vi administração mais perseguida do que a da Erundina nos anos seguintes. Sua administração foi cercada por todos os lados. Era pau diário na imprensa. Ela tinha menos de 15 dias no cargo e houve uma daquelas inundações de verão braba. Resultado: críticas de todos os lados...Má fé e má vontade caminhando juntas.

Vereadores, que anos depois alguns deles foram presos ou se envolveram em casos de corrupão na adminsração Maluf/Pitta, se viram no direito de até pedir o impechment de Erundina. E quase conseguiram. Foi por pouco.

Mas a ferida de morte na administração ocorreu quando o Tribunal de Justiça suspendeu a cobrança do IPTU de forma proporcional ao bairro. Quem mora em bairro bom paga mais do que aquele que mora em um bairro distante e mais pobre. Com a queda da aplicação de alíquotas diferenciadas, a prefeitua foi obrigada a cobrar pela alíquota menor. Ou seja, muito menos dinheiro do que o orçamento previa.

Pouco tempo depois o presidente do Tribunal que concedeu a liminar foi ser secretário de segurança do tal governador que foi eleito graças à quebra de um banco. Anos mais tarde a justiça reconhecia como correta a cobrança do IPTU e hoje já é prática adotada em muitos municípios brasileiros.

Como se vê, é quase um milagre nesta nossa sociedade que surjam pessoas que sejam honestas ou que procurem mudar as (más) práticas habituais de se fazer política neste país. Minha total solidariedade à Erundina.

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