segunda-feira, 14 de maio de 2007

O brasileiro e a religião

Passei batido no especial religiões da Folha publicado em 6 de maio, mas tento recuperar o tempo perdido. Aliás, excelente caderno e merece uma leitura atenta. O jornal fez uma bela pesquisa de opinião e praticamente referendou o que todo mundo já sabia: ao mesmo tempo que existe um sincretismo religioso nato do brasileiro também há muita desinformação e preconceito. Por exemplo, 57% dos entrevistados acreditam que os umbandistas têm parte com o demônio. 49% vinculam a religião muçulmana com o terrorismo.
Já o sincretismo está patente nos seguintes dados na interpretação de Reginaldo Prandi: "17% dos brasileiros freqüentam cultos ou serviços religiosos de alguma religião diferente da que professam. Esse número sobe a 19% entre os católicos, cresce para 37% entre os umbandistas e chega a 48% entre os seguidores do candomblé. Mais sectários, os evangélicos pentecostais se mostram numa cifra bem mais modesta: 9%. E o que vão fazer numa religião que não é a sua? Uns vão participar de atos com finalidade religiosa. Outros, presenciar ritos como casamento e funeral, numa atividade mais social que religiosa. Não raro, a coisa se faz por necessidade religiosa ou mágica, uma religião complementando outra. Isso é comum no Brasil, pelo caráter sincrético de nossas religiões. Umas mais, outras menos, toda religião é sincrética. "
Mas para mim o melhor foi o texto do publicitário Nizan Guanaes. Com o título Sou católico, apostólico, baiano, ele discorre sobre sua religião o candomblé. Alguns trechos:
"O candomblé não é religião. É culto aos antepassados, às forças da natureza. É moderno. Já era ecológico antes que a ecologia entrasse em voga. Não exclui opções sexuais. Ao contrário, acolhe. Os deuses do candomblé têm ira, inveja e raiva. Xangô é colérico. Oxum é ciumenta e chorosa. Ogum tem o pavio curto. Não é muito chique ser do candomblé. Pelo menos na parte do país em que vivo. Como toda cultura vinda dos vencidos, é visto como desvio, coisa de gente desajustada ou artista. E confesso que isso, ao contrário de me afastar dele, sempre me instigou a caminhar contra o vento. Toda sexta-feira vejo o olhar jocoso com que algumas pessoas me olham vestido de branco. O candomblé é o culto do bem. Tantas vezes confundido com feitiço. Se alguém usou esses poderes santos para o mal, é descaminho. E contra ele a força deve ter se voltado. O catolicismo não pode ser julgado a partir de padres pedófilos. E o candomblé não pode ser julgado a partir de pais-de-santo picaretas. Candomblé é magia."

Abaixo links para ler o especial e os artigos mencionados (para assinantes)
Artigo de Nizan Guanaes
Texto completo de Reginaldo Prandi

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