sábado, 14 de abril de 2007

Uma discussão interrompida

Tem certas coisas neste país que me deixam furioso. Uma delas é quando o debate de alguns assuntos no país vira Fla-Flu ou quando os meios de comunicação impedem um debate sério por ir contra determinados interesses. Um desses temas é o aborto. O ministro da saúde José Gomes Temporão fez uma declaração corajosa ao dizer que não podemos fechar os olhos para os milhões de abortos clandestinos que ocorrem no país. Sugeriu até que a descriminalização e a liberação fossem definidos democraticamente a partir de um plebiscito. Foi o que bastou para uma tropa de choque no estilo "torquemadas" fizesse manifestações e até, com alguma violência, tentasse impedir um ato público em que estava presente o ministro. O que o país ganha com este tipo de censura? Qual é o problema de se debater a fundo a questão? Ou a elite branca deste país, nas palavras do pefelista Cláudio Lembo, prefere fingir que mais de um milhão de abortos clandestinos não ocorrem por aqui? Que a interrupção da gravidez constitui a quinta maior causa de internações na rede pública de saúde? Que o aborto é a terceira causa de morte materna no país (IBGE - 2001). Que só em 2004, 243.988 mulheres foram internadas para fazer curetagem pós-aborto na rede do SUS? Particularmente, não vejo com bons olhos o aborto, mas respeito quem não veja problema religioso algum e/ou não quer manter uma gravidez indesejada. É uma questão de foro íntimo. Não podemos obrigar ninguém a pensar e agir como queremos. Isso é um fascismo disfarçado. E toda a discussão fica no debate esotérico se interromper a gravidez é um direito à vida ou não. Ou seja, conversa para boi dormir. Enquanto ficamos enxugando convenientemente o gelo, mais de um milhão de abortos clandestinos são feitos neste país. A elite branca que é contrária, quando precisa paga mais de R$ 5 mil por uma boa "parteira". Já as pessoas humildes têm que se virar com ervas, pessoas desqualificadas que acabam fazendo a curetagem com arame e outros utensílios inimagináveis. Mas isso não é problema da elite branca. O importante é manter a aparência. Ser hipócrita.

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