quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Ainda o acidente e a mídia

Sei que estou fugindo totalmente da temática deste blog, me perdoem, mas o acidente com o avião da TAM e o comportamento da mídia e de parte da elite golpista deste país exigia um posicionamento. Mesmo que fosse uma voz solitária na blogsfera, tinha que fazer meus alertas e dividir minhas aflições sobre a maneira criminosa como as coisas estavam sendo conduzidas. Por isso, postei deste a semana passada acho que uns 8 textos sobre o assunto. Se não for mais obrigado a emitir uma opinião, paro por aqui. Porém, como dizem os escoteiros, estou sempre alerta. Bom, mas para finalizar esta série chamo a atenção para três textos publicados em blogs que são muito didáticos sobre o papel ridículo da imprensa neste trágico episódio e o não menos desastroso assodamento de certos setores golpistas da elite nacional.

Blog Luis Nassif
A marcha da insensatez
Essa atoarda da chamada grande mídia em relação à situação do país está extrapolando os limites do razoável.Faço parte do grupo de analistas que julga que o país está perdendo a maior oportunidade da história. Falta plano de vôo, pensamento estratégico, sucumbiu-se aos desígnios do mercado, deixou-se iludir e não se aproveitaram as oportunidades extraordinárias trazidas pelo boom da China.Mas não é disso que os grandes jornais se queixam. Pelo contrário, têm aprovado incondicionalmente essa política econômica que permitiu aos detentores de capitais, nesse primeiro semestre, um dos maiores ganhos da história, e que continuou consumindo parcela expressiva do orçamento público em detrimento dos investimentos.
No entanto, desde o acidente com o avião da TAM - que, ao que tudo indica em decorrência de problemas técnicos e/ou falha humana - parece que nada funciona no país. Como assim?É facílimo manipular a opinião pública, ainda mais quando se juntam veículos com poder de mercado.Se se quiser medir o poder de manipulação da informação, montem-se dois grupos de leitores. Alimente-se o primeiro com noticiário exclusivamente negativo. Não precisa ir muito longe. Se um brigadeiro diz que a pista de Cumbica está ruim, e todas as associações de pilotos e usuários dizem que não, dê destaque apenas à declaração do brigadeiro. Em cada Ministério será possível encontrar falhas que, colocadas em manchetes, joguem quaisquer méritos para segundo plano.Ao segundo grupo, forneça apenas notícias positivas. Fale dos superávits da balança comercial, como se nada tivesse a ver com efeito-China. Celebre a apreciação do câmbio, como se fosse sinal de saúde da economia. Mostre o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o PAC da Tecnologia, o PAC da Saúde, o PAC da Educação. Destaque os recordes sucessivos do setor imobiliário, o bom desempenho da indústria de máquinas e equipamentos, e esconda todos os setores que estão sendo dizimados pelo câmbio.O primeiro grupo achará que tudo está perdido e o segundo que o país está à beira do paraíso. Toda essa diferença em cima de uma mesma realidade, valendo-se apenas do poder de manipulação da informação.
Quando se tem equilíbrio, se mostra o certo e o errado, passa ao leitor objetividade e, ao governo, pressão certa. Analisa-se um problema localizado e cobra-se a sua solução.Quando se cria essa zorra em que, aparentemente, nada funciona, a intenção não é resolver nada. Ao leitor desnorteado por tantos problemas apresentados simultaneamente, sem nenhuma proposta de solução, a única alternativa que ocorre é mudar tudo. Como? Pedindo a cabeça do responsável maior pelo suposto caos: o Presidente da República.Aí se geram dois efeitos simultâneos, ambos radicalizantes. De um lado, um público indignado, querendo a cabeça do presidente. Do outro, um público indignado, querendo o fígado da mídia.Pior: quando a crítica ao Lula extrapola e assume ares de campanha sistemática, desarma todas as críticas relevantes que deveriam ser feitas aos inúmeros problemas reais que existem na administração pública.Até onde irá essa marcha da insensatez, não sei.

Blog Paulo Henrique Amorin
Entrevista a filósofa Marilena Chauí que analisa o comportamento da imprensa:
" A imprensa noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população. Primeiro, atribuiu o acidente à pista de Congonhas e à Infraero; depois aos excessos da malha aérea, responsabilizando a ANAC; em seguida, depois de haver deixado bem marcada a responsabilidade do governo, levantou suspeitas sobre o piloto (novato, desconhecia o AIRBUS, errou na velocidade de pouso, etc.); passou como gato sobre brasas acerca da responsabilidade da TAM; fez afirmações sobre a extensão da pista principal de Congonhas como insuficiente, deixando de lado, por exemplo, que a de Santos Dumont e Pampulha são menos extensas;
estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da INFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula;
definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula;
vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris – e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUS acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato em Porto Alegre!); etc. não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que Congonhas, entre 1986 e 1994, só fazia ponte-aérea e, sem mais essa nem aquela, desde 1995 passou a fazer até operações internacionais. Por que será? Que aconteceu a partir de 1995?
não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que, desde os anos 1980, a exploração imobiliária (ou o eterno poder das construtoras) verticalizou gigantesca e criminosamente Moema, Indianópolis, Campo Belo e Jabaquara. Quando Erundina foi prefeita, lembro-me da grande quantidade de edifícios projetados para esses bairros e cuja construção foi proibida ou embargada, mas que subiram aos céus sem problema a partir de 1993. Por que? Qual a responsabilidade da Prefeitura e da Câmara Municipal?

Blog do Mino Carta
Clamores novelescos
Clama O Globo na primeira página de hoje: empresas aéreas avisam que não podem cumprir novas rotas. E esclarece que denunciam a intervenção do governo no mercado. Enfim, a conclusão é simples: Lula não acerta uma e, como se não bastasse, porta-se ditatorialmente. Sempre da primeira página, enquadrada, uma nota sobre as revelações de oficiais que ouviram as gravações feitas a bordo do Airbus segundos antes da explosão: terror dos tripulantes e gritos de desespero dos passageiros. Clara a intenção novelesca, de notória extração global, mesclada com uma espécie de estupor diante do óbvio. Doloroso, mas óbvio. Não vai ser fácil que o jornal reconheça outras revelações da caixa preta, o erro humano e a falha do equipamento. Suponho que os gritos de pavor, ao menos estes, sejam culpa do Lula. Pergunto-me, aliás, se o ex-metalúrgico não seria também culpado pela morte de Bergman e Antonioni.

E a crise? E os slogans?E agora, como fica a crise aérea? Houve erro humano, possivelmente complicado por um defeito, grave, do próprio avião. Faz dias, aliás, que se fala de outros acidentes já ocorridos com o Airbus, cujas instruções de vôo poderiam levar o piloto a cometer erros. Constato que vai faltar munição para esta campanha anti-Lula, sempre culpado de tudo e por tudo, em movimento de diversos quadrantes. Inclusive o movimento Cansei terá de renunciar a um dos slogans inventados sob medida por Nizan Guanaes, o George Clooney da publicidade nativa. O duce da OAB de São Paulo e o Iconoclasta Mor devem mastigar fel, entre um canapé de caviar e um flute de Dom Pérignon. Gelado a 7,5 graus, exatamente.

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