domingo, 15 de julho de 2007

Nietzsche e o valor da dificuldade

Na busca de levar a filosofia para perto do cidadão comum, Alain de Botton em As Consolações da Filosofia sempre tenta apanhar um conceito mostrado por um pensador famoso. No caso de Friedrich Nietzsche era a idéia de que só o esforço, as dificuldades, os contratempos, o medo, o sofrimento, poderiam valorizar uma conquista. Ou ainda: "o ser humano só conseguia atingir uma vida plena depois de passar por períodos de grande infortúnio"


Nas palavras de Botton, "os mais satisfatórios projetos humanos pareciam inseparáveis de um grau de tormento; estranhamente, as origens de nossas maiores alegrias pareciam residir junto àquelas de nossos maiores sofrimentos". Nietzsche fazia uma analogia interessante: "...se uma árvore que deve alcançar uma altura invejável pode prescindir do mau tempo e das tempestades e se o infortúnio e a resistência externa, alguns tipos de ódio, a inveja, a obstinação, a desconfiança, a insensibilidade, a avareza e a violência fazem, ou não, parte das condições favoráveis sem as quais qualquer grande progresso, mesmo o da virtude, quase nunca é possível".

Botton explica que "no intervalo entre o fracasso inicial e o sucesso subseqüente, no espaço de tempo que separa a pessoa que um dia queremos ser e a que somos no momento, devem vir a dor, a ansiedade, a inveja e a humilhação. Nós sofremos porque não conseguimos espontaneamente conhecer a fundo os ingredientes da satisfação. Nietzsche esforçava-se para retificar a crença de que a satisfação ou é facilmente obtida ou jamais nos bate à porta, uma crença de efeitos nocivos por nos induzir a desistir prematuramente dos desafios que poderiam ter sido vencidos se ao menos nos tivéssemos preparado para as batalhas que praticamente tudo que é valioso tem o direito de exigir"

Justamente por evitar esta realidade e permitir o comodismo é que Nietzsche abominava o álcool e o cristianismo. "Os dois grandes narcóticos europeus, o álcool e o cristianismo", afirmava o filósofo. "Tanto um quanto o outro têm o poder de nos convencer de que são verdadeiras as deficiências que, em nosso íntimo, previamente julgávamos possuir e que o mundo não requer atenção; ambos enfraquecem nossa decisão de cultivar nossos problemas; ambos nos negam a chance de satisfação", explica Botton.

"Para Nietzsche os adeptos da religião do comodismo, os cristãos, em sua escala de valores, haviam dado prioridade ao que era fácil, não ao que era desejável, e desta forma drenaram o potencial da vida", finaliza Botton.

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